Leituras literárias: escritas e diálogos intermidiáticos

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Plano de aula - 7º ano do Ensino Fundamental - E.E.E.M.Felipe Marx. Acadêmicas: Daiane Ramos, Ellen M C P Raimundo e Kelly C Alves



Data: 30/10
Carga horária: 3h/aula
Conteúdo: Leitura e interpretação do conto Tentação, de Clarice Lispector
Objetivos:
- Compreender a existência das diferenças por meio de leitura e interpretação de texto a fim de desenvolver sua consciência humanística;
- Analisar as semelhanças entre o conto Tentação e o curta-metragem Cordas por meio de questões a fim de estabelecer relação entre ambos os gêneros.
Metodologia
·         Motivação: Exibir o curta-metragem Cordas, vencedor do prêmio GOYA.
·         Pré-leitura: Questionar os alunos sobre o filme assistido:
- O que você entendeu sobre a história do filme?
- O que mais lhe chamou a atenção no filme?
- Você acredita que pessoas com certas diferenças podem fazer amigos e se sentirem incluídas?
- Quais foram as ações feitas pela menina para ajudar seu novo amigo?
- Você acredita que ser diferente dos demais gera solidão e dificuldade de fazer amigos?
·         Leitura e descoberta: Fazer a leitura coletiva do conto Tentação, de Clarice Lispector.

TENTAÇÃO – Clarice Lispector
Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
            Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
            Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
            Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
            A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
            Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
            Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
            Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
            No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.
            Mas ambos eram comprometidos.
            Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
            A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
            Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

Conto extraído de LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Atividade proposta:
Responda às seguintes questões sobre o conto lido:
1.      Onde se passa a história? Como estava o clima naquele dia? Comprove com trechos do texto.
2.      Quem são os personagens principais do conto e o que há em comum entre eles?
3.      No segundo parágrafo do texto, percebe-se que a menina está se sentindo sozinha. Quais elementos presentes na narrativa confirmam isso?
4.      Descreva, com suas palavras, qual foi a reação da menina ao avistar o cachorro.
5.      Por que a menina ficou tão encantada ao encontrar-se com o cachorro basset? Explique.
6.      Qual a figura de linguagem presente no trecho: “Na rua vazia as pedras vibravam de calor”?
7.      Aponte semelhanças entre o conto Tentação e o filme Cordas.
8.      No final do conto, percebemos que o cachorro e a menina não puderam ficar juntos. O que os impediu?
9.      Você acredita que só é possível haver amizade entre pessoas ou seres iguais? Explique.
10.  Se você pudesse alterar o final do conto, como ele seria?
·         Pós-leitura: Escreva um conto, com o mínimo de vinte e cinco linhas, no qual o personagem principal sinta-se diferente em relação às outras pessoas.
Onde vive o personagem? O que ele tem que o torna diferente? Como as pessoas à sua volta interagem com ele? Ele tem um amigo especial que o entende? Como acontece essa amizade? Eles conseguem ficar juntos no final?

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