Leituras literárias: escritas e diálogos intermidiáticos

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

CARTA - Plano de aula - 2° ano do Ensino Médio - Colégio Theóphilo Sauer - Acadêmicos Andressa Fernanda Oliveira Strutzki e Vicente Orsi Vargas

Data da aula:26/06/17.

Duração: duas horas-aula.

Ano: 2º ano do ensino médio.

Objetivo: Propiciar situações que permitam aos alunos refletirem, promovendo assim sua auto-confiança na produção textual através da produção textual de uma carta.  

Conteúdo: Produção de cartas.

Procedimento:

1º momento: Os professores iniciarão a aula com os seguintes questionamentos para os alunos apenas refletirem:

·        O que você aprecia na sua vida?
·        Estou investindo meu tempo em pessoas certas?
·        Como estou afetando as pessoas em minha vida?
·        Estou segurando alguma coisa que precisa ser deixada de lado?
·        Quem merece ser perdoado?
·        O que meus medos estão me impedindo de fazer?
·       Você está fazendo aquilo em que acredita, ou você se conforma com o que está fazendo?
·       Por que você está onde está?

2º momento: Após os questionamentos, será proposto aos alunos fazerem uma carta o qual o destinatário serão eles mesmos.
Na carta eles terão que contar tudo que ocorreu nesses dez anos(escola, família, amigos, amores, trabalho).
Atividade:


O QUE EU DIRIA PARA O MEU FUTURO EU SE O ENCONTRASSE DAQUI A 10 ANOS?

Plano de aula - 2° ano do Ensino Médio - Colégio Theóphilo Sauer - Acadêmicos Andressa Fernanda Oliveira Strutzki e Vicente Orsi Vargas

Data da aula: 29/05/17

Ano: 2º ano do Ensino Médio

Objetivo: Incentivar a prática da leitura-prazer e a produção de texto poético, exercitar o pensamento reflexivo, imaginação e a criatividade através das atividades propostas a partir do poema JOSÉ.

Conteúdo: Poema, interpretação de texto criação de poema.            

Recursos: Materiais impressos.

Procedimentos:

1º momento: Neste momento os professores retomarão as características de um poema. Logo após, será realizada a leitura do seguinte poema:

José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

2º momento: os professores questionarão os alunos sobre o poema lido, sobre a opinião deles. Será feita uma breve explicação sobre o contexto histórico em que foi escrito o poema.

3º momento: 
Atividades:
1)     Procure no dicionário o significado das seguintes palavras:
·         Teogonia:
·         Utopia:
2)     Explique as figuras de linguagem que encontra-se na última estrofe.
3)     Neste poema o eu-lírico retrata uma situação social. Qual é? E como se evidencia no poema?
4)     Quem seria o personagem José?
5)     Crie uma releitura do poema José, utilizando a frase “E agora, José?”


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Plano de aula - 7º ano do Ensino Fundamental - E.E.E.M.Felipe Marx. Acadêmicas: Daiane Ramos, Ellen M C P Raimundo e Kelly C Alves



Data: 04/09
Carga horária: 2h/aula
Conteúdo: Interpretação e comparação entre a obra Reinações de Narizinho e a série televisiva O Sítio do Pica pau amarelo e produção textual
Objetivos:
- Observar as diferenças entre a obra Reinações de Narizinho e a série televisiva O Sítio do Pica Pau amarelo por meio de comparação e interpretação de ambos a fim de compreender as diversas adaptações;
- Despertar a imaginação por meio de produção textual a fim de desenvolver as habilidades de escrever e criar histórias.
Metodologia
·         Motivação: Passar o episódio O casamento da Emília, do Sítio do Pica Pau Amarelo, da Globo.

·         Pré-leitura: Questionar os alunos sobre o episódio assistido:
- Vocês já tinham assistido a esse episódio?
- Quais semelhanças e diferenças vocês perceberam em relação à obra Reinações de Narizinho?
·         Leitura e descoberta: Entregar aos alunos a parte do capítulo O Marquês de Rabicó, da obra Reinações de Narizinho, que retrata o casamento da Emília.

(O casamento da Emília)
Chegou afinal o grande dia e vieram os grandes doces: seis cocadas, seis pés-de-moleque e uma rapadura, doce mais que suficiente para uma festa em que quase todos os convivas iam comer de mentira.
Pedrinho armou a mesa da festa debaixo de uma laranjeira do pomar e botou em redor todos os convivas. Lá estavam dona Benta, tia Nastácia e vários conhecidos e parentes, todos representados por pedras, tijolos e pedaços de pau. O inspetor de quarteirão, um velho amigo de dona Benta que às vezes aparecia pelo sítio, era figurado por um toco de pau com uma dentadura de casca de laranja na boca.
Chegou a hora. Vieram vindo os noivos. Emília, de vestido branco e véu; Rabicó, de cartola e faixa de seda em torno do pescoço.
Vinha muito sério, mas assim que se aproximou da mesa e sentiu o cheiro das cocadas, ficou de água na boca, assanhadíssimo. Não viu mais nada.
Logo depois veio o padre e casou-os. Narizinho abraçou Emília e chorou uma lágrima de verdade, dando-lhe muitos conselhos.
Depois, como a boneca não tivesse dedos, enfiou-lhe no braço um anelzinho seu. Pedrinho fez o mesmo com o marquês: enfiou-lhe no braço uma aliança de casca de laranja, que Rabicó por duas vezes tentou comer.
— Ao menos no dia de hoje comporte-se! — disse o menino, ameaçando-o.
Os outros animais do sítio, as cabras, as galinhas e os porcos, também assistiram à festa, mas de longe. Olhavam, olhavam, sem compreenderem coisa nenhuma.
Terminada a festa, Narizinho disse:
— E agora, Pedrinho?
— Agora — respondeu ele — só falta a viagem de núpcias.
Mas a menina estava cansada e não concordou. Propôs outra coisa. Puseram-se a discutir e esqueceram de tomar conta da mesa de doces. Rabicó aproveitou a ocasião. Foi se chegando para perto das cocadas e de repente – nhoc, deu um bote na mais bonita.
— Acuda os doces, Pedrinho! — berrou a menina. Pedrinho virou-se e, vendo a feia ação do pirata, correu para cima dele, furioso.
Agarrou o inspetor de quarteirão e arrumou uma valente inspetorada no lombo do porquinho.
— Cachorro! Ladrão! Marquês duma figa!… Rabicó deu um berro espremido e disparou pelo campo, mas sem largar a cocada.
Foi um desastre. A festa desorganizou-se e Emília chorou e esperneou de raiva.
-É isso! Eu bem não estava querendo casar com Rabicó! É um tipo muito ordinário, que não sabe respeitar uma esposa.
Narizinho interveio e consolou-a.
— Isto não quer dizer nada. Rabicó é meio ordinário, não nego, mas com o tempo irá criando juízo e ainda acabará um excelente esposo. Depois, é preciso não esquecer que qualquer dia ele vira príncipe e faz você princesa.
Mas Pedrinho, que estava danado com a feia ação de Rabicó, estragou tudo, dizendo:
— Príncipe nada, Emília! Narizinho bobeou você. Rabicó nunca foi nem será príncipe. É porco e dos mais porcalhões, fique sabendo.
Ao ouvir aquilo, Emília caiu para trás, desmaiada…

Atividades propostas:

Responda às seguintes perguntas sobre o texto:

1.      A partir do texto lido, cite três características para cada um dos noivos: Emília e Rabicó.
2.      Leia as frases abaixo e substitua as palavras destacadas por sinônimos:

a)      “Pedrinho armou a mesa da festa debaixo de uma laranjeira do pomar e botou em redor todos os convivas.”
b)      Acuda os doces, Pedrinho! — berrou a menina.”
3.      Explique, com suas palavras, a expressão destacada:
. Foi se chegando para perto das cocadas e de repente – nhoc, deu um bote na mais bonita.”
4.      Quais seriam os conselhos que Narizinho deu à Emília após o casamento?

5.      Aponte uma diferença percebida em relação aos fatos ocorridos no episódio assistido em comparação ao texto lido.

·         Pós-leitura: Imagine que você é um escritor e crie uma história que se passe em um sítio. A história deve ser original, com enredo e personagens criados por você, e deve conter, no mínimo, 25 linhas.

Plano de aula - 7º ano do Ensino Fundamental - E.E.E.M.Felipe Marx. Acadêmicas: Daiane Ramos, Ellen M C P Raimundo e Kelly C Alves



Data: 28/08
Carga horária: 2h/aula
Conteúdo: Obra Reinações de Narizinho/ Leitura e confecção de personagens
Objetivos:
- Conhecer parte da obra Reinações de Narizinho por meio de leitura expressiva feita pelas professoras a fim de despertar o interesse por conhecer a obra completa;
- Desenvolver habilidades manuais por meio de confecção de personagens da obra Reinações de Narizinho a fim de estimular a criatividade.
Metodologia
·         Motivação: Levar para a aula a boneca Emília e expor para os alunos, gerando curiosidade neles. A partir disso, questionar a turma sobre a personagem; características e demais conhecimentos prévios que tenham sobre ela. Após, apresentar a música Emília, a boneca gente, de Baby Consuelo. https://www.youtube.com/watch?v=vYcHA-1kT94

·         Pré-leitura: Explicar à turma a importância da obra Reinações de Narizinho, enfatizando a personagem Emília, uma das maiores criações de Monteiro Lobato. Mostrar aos alunos algumas edições da obra, permitindo que eles tenham contato com os livros físicos.
·         Leitura e descoberta: As professoras farão a leitura expressiva de parte do capítulo O Marquês de Rabicó, da obra Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

REINAÇÕES DE NARIZINHO – O MARQUÊS DE RABICÓ (O casamento da Emília)

Narizinho estava no seu quarto conversando com a boneca.
— Senhora condessa, acho que é tempo de mudar de vida. Precisa casar, se não acaba ficando tia. Amanhã vem cá um distinto cavalheiro pedir a mão de Vossa Excelência.
Emília andava bem de saúde, gorda e corada. Tia Nastácia havia enchido de macela nova a perninha que fora saqueada no passeio ao reino das Abelhas e Narizinho havia consertado uma das suas sobrancelhas de retrós, que estava desfiando. Além disso, pintara-lhe nas faces duas rodelas de carmim, bem redondinhas.
Emília não se mostrava disposta a casar. Dizia sempre que não tinha gênio para aturar marido, além de que não via lá pelo sítio ninguém que a merecesse.
— Como não? — protestou a menina. E Rabicó? Não acha que é um bom partido?
A boneca ficou indignada e declarou que jamais se casaria com um poltrão como aquele. O fiasco feito na viagem à terra das Abelhas não era coisa que merecesse perdão.
A menina riu-se e explicou:
— Você está enganada, Emília. Ele é porco e poltrão só por enquanto. Estive sabendo que Rabicó é príncipe dos legítimos, que uma fada má virou em porco e porco ficará até que ache um anel mágico escondido na barriga de certa minhoca. Por isso é que Rabicó vive fossando a terra atrás de minhocas.
Emília ficou pensativa. Ser princesa era o seu sonho dourado e se para ser princesa fosse preciso casar-se com o fogão ou a lata de lixo, ela o faria sem vacilar um momento.
— Mas você tem certeza, Narizinho?
— Tenho certeza absoluta! Quem me revelou toda essa história foi justamente o pai de Rabicó, o senhor Visconde de Sabugosa, um fidalgo muito distinto que vem fazer o pedido de casamento.
— Visconde? — repetiu Emília, desconfiada. — Então o pai desse príncipe é Visconde só? Eu quero casar com príncipe filho de rei.
— Você é uma bobinha que não sabe nada. O Visconde finge de Visconde, mas na realidade é rei e muito bom rei de um reino lá atrás do morro. Quando ele vier, repare na cabeça dele e veja que tem um sinal de coroa em redor da testa. Para esconder esse sinal ele usa cartola, que não tira nunca, nem na igreja. Desse modo, como ninguém vê o sinal da coroa, ninguém desconfia.
Emília pensou, pensou, pensou e disse:
— Pois bem, aceito! Mas desde já vou dizendo que não saio daqui. Caso-me, mas não vou morar com Rabicó enquanto ele não virar príncipe novamente.
— Muito bem! — concluiu Narizinho. — Nesse caso, vá preparar-se para receber o Visconde, que não deve tardar. Ele já está a caminho. Vista aquele vestido de pintas vermelhas e ponha mais ruge na cara, ouviu?
Enquanto a boneca se vestia, a menina correu ao pomar em procura de Pedrinho, que estava ocupado em chupar laranjas-lima.
— Depressa, Pedrinho! Arranje-me um bom Visconde de sabugo, bem respeitável, de cartola na cabeça e um sinal de coroa na testa, e venha com ele pedir Emília em casamento. Enganei-a que Rabicó é filho desse Visconde, o qual é um grande rei de um reino lá atrás do morro. Os dois, pai e filho, foram encantados por uma fada, só devendo se desencantarem no dia em que Rabicó descobrir uma certa minhoca com um certo anel mágico na barriga.
— E a boba acreditou?
— Acreditou piamente e declarou que nesse caso aceitará Rabicó como esposo, embora não vá morar com ele enquanto não virar príncipe novamente.
Pedrinho fez como Lúcia pediu. Arranjou um bom sabugo, ainda com umas palhinhas no pescoço que fingiam muito bem de barba, botou-lhe braços e pernas, fez cara com nariz, boca, olhos e tudo – e não esqueceu de marcar-lhe a testa com um sinal de coroa de rei.
Depois enterrou-lhe na cabeça uma cartolinha e lá foi com ele à casa da boneca.
— Toc, toc, toc, bateu.
— Quem é? — indagou de dentro a voz da menina.
— É o ilustre senhor Visconde de Sabugosa que vem fazer uma visita à senhora condessa de Três Estrelinhas e pedi-la em casamento para o seu ilustre filho, o senhor marquês de Rabicó.
— Esperem um minutinho que já abro — respondeu a menina.
E voltando-se para a boneca:
— Vê, Emília? Além de príncipe ele ainda é marquês. De modo que se você casar-se com ele começa já a ser marquesa e um dia virará princesa. Não pode haver futuro mais bonito para uma coitadinha que nasceu na roça e nem em escola esteve. Você vai ser a Gata Borralheira das bonecas!…
Emília deu três pulinhos de alegria e foi correndo botar mais um pouco de pó de arroz. Enquanto isso o Visconde entrou.
Narizinho fez-lhe uma respeitosa reverência e respondeu, sem dar a entender que estava falando com um rei disfarçado:
— Muito prazer, senhor Visconde! Puxe uma cadeira e sente-se no chão. Creia que fico muito satisfeita de saber que seu filho é marquês. E como vai a senhora Viscondessa?
— Sou viúvo — respondeu o Visconde, suspirando profundamente.
— Meus pêsames! E a senhora sua mãe, dona Palha de Milho?
O Visconde suspirou de novo.
— Coitada! Faleceu num horrível desastre…
— Como? Conte-nos isso — exclamou Narizinho, fingindo grande aflição.
— Pois é. Foi comida pela vaca mocha — explicou o Visconde, enxugando nas palhinhas de milho do pescoço duas lágrimas, uma de cada olho.
— A pobre! — murmurou a menina muito triste. — Eu sinto bastante, Visconde, mas o mundo é isto mesmo. Um come o outro. A vaca mocha come as donas Palhas e a gente come as vacas. A vida é um come-come danado! Estou aqui apostando que também os seus filhos foram comidos pelas senhoras galinhas…
O Visconde arregalou os olhos como se não soubesse que tinha mais filhos além do marquês.
— Sim — explicou Narizinho. — Os grãos de milho que Vossa Excelência já teve pregados pelo corpo, creio que podem ser chamados seus filhos.
— Ah, sim, é verdade! Foram comidos pelo galo índio há duas semanas.
Nisto Emília apareceu à porta, no seu vestidinho de chita com pintas vermelhas.
— Senhor Visconde — disse a menina — tenho o prazer de lhe apresentar a sua futura nora, a senhora condessa de Três Estrelinhas. Veja como é galante!…
O Visconde levantou-se para saudar a boneca e por “distração” tirou a cartola, deixando que Emília visse o sinal de coroa em sua testa.
— Tenho a mais subida honra de receber no seio de minha família esta nobre condessa — disse ele. — Pelo que vejo é a mais linda criatura destes arredores! Acho-a ainda mais bonita que a franguinha pedrês de tia Nastácia…
Emília fez uma cortesia para agradecer a amabilidade, embora torcesse o nariz àquela comparação com a franguinha pedrês.
— E não é só isso — interveio Narizinho. — Bonita e prestimosa como não há outra! Sabe fazer tudo. Cozinha na perfeição, lava roupa e lê nos livros que nem uma professora. Emília é o que se chama uma danada.
— Muito bem! Muito bem! — ia exclamando o Visconde.
— Também toca lindas músicas na vitrola, mia como gato, arrebenta pipocas e tem muito jeito para modista. Esse vestidinho de pintas, por exemplo, foi todo feito por ela.
Emília, que ainda não sabia mentir, interrompeu-a, dizendo:
— Não fui eu, foi tia Nastácia quem o fez. A menina deu-lhe um beliscão sem que o Visconde percebesse.
— Não repare, Visconde. Emília é muito modesta. Faz as coisas mas não quer que se diga. Esse vestido ela o fez sozinha, sozinha. Ela mesma escolheu a fazenda, ela mesma cortou e coseu. E olhe como ficou bem assentado nas costas. Levante-se, Emília, e vire-se de costas para o Visconde ver.
Emília levantou-se da cadeira e deu umas voltas pela sala.
— Não está dos mais elegantes mas serve – continuou Narizinho. — Emília nasceu aqui na roça e nunca foi à cidade, nem aprendeu costura. Para uma criatura nessas condições não acha que está bem feitinho?
O Visconde olhou, olhou e disse:
— Eu, a falar a verdade, não entendo de modas. Mas acho muito bom. Só que a saia me parece um tanto curta…
— Eu também acho e já o disse a ela; mas Emília como tem perna grossa, anda com mania de mostrá-la. Só usou saia comprida durante o tempo da perna seca — e contou ao Visconde o caso do ouro-macela. Depois, mudando de assunto, pediu informações a respeito do gênio de Rabicó.
— Ele tem muito bom gênio — disse o Visconde. — Não é briguento, nem provocador. Possui belas qualidades. Quanto ao mais, gosta muito de dormir ao sol e fossar a terra para descobrir minhocas.
Nesse ponto a menina piscou para a boneca, querendo referir-se à história de certo anel que ele andava procurando dentro de certa minhoca, e Emília convenceu-se de que Rabicó era mesmo um príncipe encantado.
— O único defeito que tem — continuou o Visconde — é comer tudo quanto encontra. Rabicó não respeita coisa nenhuma!
Emília fez carinha de nojo e foi cuspir à janela. Depois, metendo-se na conversa, disse:
— Pois se se casar comigo só há de comer coisas gostosas e cheirosas. Não consinto que meu marido ande comendo o que encontra.
— Apoiadíssimo, Emília! — exclamou a menina. — Também penso desse modo e acho que você faz muito bem de exigir isso dele. Mas agora só resta saber se você aceitou ou não aceita o senhor marquês de Rabicó como esposo. Vamos lá. Resolva…
Emília ficou meio aflitinha de ter de decidir por si mesma uma questão de tal gravidade como essa de escolher um esposo e olhou Narizinho interrogativamente, como quem pede auxílio. Mas a menina não quis intervir, porque não desejava ficar com a responsabilidade.
— Não devo dar opinião, Emília. Você tem que decidir por si mesma. Casamento não é brincadeira.
A boneca pensou, pensou, pensou e afinal, tentada pela idéia de começar marquesa e um dia virar princesa, resolveu-se.
— Pois quero!
Narizinho bateu palmas.
— Bravos! Está tudo resolvido. Senhor Visconde, abrace a sua nora, a futura marquesa de Rabicó…
O Visconde ergueu-se bastante comovido. Abraçou a boneca e deu-lhe um beijo na face.
Emília, muito vermelhinha, foi correndo para o quarto.
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Durou uma semana o noivado de Emília. Todas as tardes, trazido à força por Pedrinho, aparecia o marquês de Rabicó para visitar a noiva, e tinha de ficar meia hora na sala, contando casos e dizendo palavras de amor.
Mas apesar de noivo Rabicó não perdia os seus instintos. Logo que entrava punha-se a farejar a sala, na sua eterna preocupação de descobrir coisas de comer. Além disso não prestava a menor atenção à conversa. Não havia nascido para aquelas cerimônias.
Uma tarde Pedrinho zangou-se e resolveu substituí-lo por um representante.
— Rabicó não vale a pena — disse ele aborrecido. — Não sabe brincar, não se comporta. O melhor é isto, querem ver? e saiu. Foi ao quintal e trouxe um vidro vazio de óleo de rícino que andava jogado por lá. — Está aqui. De agora em diante o noivo será representado por este vidro azul — e o tal marquês de Rabicó vai passear — concluiu pregando um pontapé no noivo.
Rabicó raspou-se gemendo três coins, e desde esse dia, enquanto fossava a terra no pomar atrás da tal minhoca de anel na barriga, quem noivava por ele, de cartola na cabeça, era o senhor Vidro Azul.
Emília comportava-se muito bem embora de vez em quando viesse com impertinências.
— Eu já disse a Narizinho: caso, mas com uma condição!
— Eu sei qual é! — adivinhou o senhor Vidro Azul. — Não quer morar na casa do marquês, com certeza porque não se dá bem com o futuro sogro, o Visconde.
— Isso não! Até gosto muito do senhor Visconde. O que não quero é sair daqui. Estou muito acostumada.
O senhor Vidro Azul coçou o gargalo.
— Sim, mas…
— Não tem mas, nem meio mas! Quem manda neste casamento sou eu. O marquês fica por lá e eu fico por cá — declarou Emília, toda espevitadinha e de nariz torcido.
O representante do noivo suspirou.
— Que pena! O senhor marquês já mandou construir um castelo tão bonito, de ouro e marfim, com um grande lago na frente…
Emília deu uma risada.
— Eu conheço os lagos do marquês! São como aquele célebre lago azul que prometeu à Libelinha lá no reino das Abelhas.
O senhor Vidro Azul atrapalhou-se. Viu que Emília não era nada tola e não se deixava enganar facilmente. Procurou remendar.
— Sim, um lago. Não digo um grande lago, mas um pequeno lago, um tanque…
— Uma lata d’água, diga logo — completou Emília mordendo os beiços.
Narizinho interveio, repreensiva.
— Você está aqui para noivar, Emília, para dizer coisas bonitas e amáveis, e não para brigar com o representante do marquês. Veja lá, hein?
E dirigindo-se ao representante:
— O senhor marquês não escreveu ainda uns versos para a sua amada noivinha?
— Escreveu, sim — respondeu o Vidro Azul, metendo a mão no gargalo e sacando um papelzinho. — Aqui estão eles. E recitou:

Pirulito que bate bate,
Pirulito que já bateu,
Quem adora o marquês é ela,
Quem adora Emília sou eu.

— Bravos! — exclamou Narizinho batendo palmas. — São lindos esses versos! O marquês é um grande poeta!…
Emilia, porém, torceu o nariz e até ficou meio danadinha.
— O verso está todo errado! Vou casar-me com ele mas não “adoro” coisa nenhuma. Tinha graça eu “adorar” um leitão!
Narizinho bateu o pé e franziu a testa.
— Emília, tenha modos! Não é assim que se trata um poeta. Você vai ser marquesa, vai viver em salões e precisa saber fingir, ouviu?
Depois, voltando-se para o representante:
— Peço-lhe mil desculpas, senhor Vidro Azul! Emília tem a mania de ser franca. Nunca viveu em sociedade e ainda não sabe mentir. Não é aqui como o nosso Visconde de Sabugosa, que fala, fala e ninguém sabe nunca o que ele realmente está pensando, não é, Visconde?
O Visconde fez um gesto que tanto podia ser sim como não.
Desse modo conversavam todas as noites, longo tempo, até que vinha o chá. Chá de mentira, com torradas de mentira. Depois do chá, o Visconde e o representante se despediam e Narizinho acompanhava-os até à porta, onde dizia:
— Não tenha medo, senhor Vidro Azul. Pode dar um beijinho nela por conta do marquês.
O representante beijava Emília na testa e retirava-se em companhia do Visconde…
Passada uma semana, a menina queixou-se a dona Benta:
— Este noivado está me acabando com a vida, vovó. Todas as noites tenho de fazer sala para os noivos. Como isto cansa!…
— Mas que é que está faltando para o casamento, menina?
— Os doces, vovó…
— Já sei. Já sei. Pois tome lá estes níqueis e mande vir os doces.
Como era justamente aquilo que Narizinho queria, lá se foi aos pinotes, com os níqueis cantando na mão.
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Chegou afinal o grande dia e vieram os grandes doces: seis cocadas, seis pés-de-moleque e uma rapadura, doce mais que suficiente para uma festa em que quase todos os convivas iam comer de mentira.
Pedrinho armou a mesa da festa debaixo de uma laranjeira do pomar e botou em redor todos os convivas. Lá estavam dona Benta, tia Nastácia e vários conhecidos e parentes, todos representados por pedras, tijolos e pedaços de pau. O inspetor de quarteirão, um velho amigo de dona Benta que às vezes aparecia pelo sítio, era figurado por um toco de pau com uma dentadura de casca de laranja na boca.
Chegou a hora. Vieram vindo os noivos. Emília, de vestido branco e véu; Rabicó, de cartola e faixa de seda em torno do pescoço.
Vinha muito sério, mas assim que se aproximou da mesa e sentiu o cheiro das cocadas, ficou de água na boca, assanhadíssimo. Não viu mais nada.
Logo depois veio o padre e casou-os. Narizinho abraçou Emília e chorou uma lágrima de verdade, dando-lhe muitos conselhos.
Depois, como a boneca não tivesse dedos, enfiou-lhe no braço um anelzinho seu. Pedrinho fez o mesmo com o marquês: enfiou-lhe no braço uma aliança de casca de laranja, que Rabicó por duas vezes tentou comer.
— Ao menos no dia de hoje comporte-se! — disse o menino, ameaçando-o.
Os outros animais do sítio, as cabras, as galinhas e os porcos, também assistiram à festa, mas de longe. Olhavam, olhavam, sem compreenderem coisa nenhuma.
Terminada a festa, Narizinho disse:
— E agora, Pedrinho?
— Agora — respondeu ele — só falta a viagem de núpcias.
Mas a menina estava cansada e não concordou. Propôs outra coisa. Puseram-se a discutir e esqueceram de tomar conta da mesa de doces. Rabicó aproveitou a ocasião. Foi se chegando para perto das cocadas e de repente – nhoc, deu um bote na mais bonita.
— Acuda os doces, Pedrinho! — berrou a menina. Pedrinho virou-se e, vendo a feia ação do pirata, correu para cima dele, furioso.
Agarrou o inspetor de quarteirão e arrumou uma valente inspetorada no lombo do porquinho.
— Cachorro! Ladrão! Marquês duma figa!… Rabicó deu um berro espremido e disparou pelo campo, mas sem largar a cocada.
Foi um desastre. A festa desorganizou-se e Emília chorou e esperneou de raiva.
-É isso! Eu bem não estava querendo casar com Rabicó! É um tipo muito ordinário, que não sabe respeitar uma esposa.
Narizinho interveio e consolou-a.
— Isto não quer dizer nada. Rabicó é meio ordinário, não nego, mas com o tempo irá criando juízo e ainda acabará um excelente esposo. Depois, é preciso não esquecer que qualquer dia ele vira príncipe e faz você princesa.
Mas Pedrinho, que estava danado com a feia ação de Rabicó, estragou tudo, dizendo:
— Príncipe nada, Emília! Narizinho bobeou você. Rabicó nunca foi nem será príncipe. É porco e dos mais porcalhões, fique sabendo.
Ao ouvir aquilo, Emília caiu para trás, desmaiada…
·         Pós-leitura: Dividir a turma em trios e sortear entre eles oito personagens da obra Reinações de Narizinho: Emília, Narizinho, Pedrinho, Dona Benta, Tia Nastácia, Rabicó, Visconde de Sabugosa e Saci. Cada trio terá que confeccionar o personagem sorteado ao seu grupo e escrever o que sabe sobre ele. Ao final, cada grupo receberá das professoras um pequeno texto com as características desse personagem, a fim de verificar se está de acordo com aquilo que escreveu. Após isso, os grupos apresentarão seus personagens à turma.