Leituras literárias: escritas e diálogos intermidiáticos

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O Analista de Bagé e o estereótipo do gaúcho

PLANO DE AULA Nº 02
Escola: Colégio João Mosmann
Professores/ bolsistas: Ana Lúcia F. Carvalho, Angela Berton
Data: 27/06/2016 Carga horária: 8 horas/aula
Turma: 103 Professora/ supervisora: Viviana

Assunto:Leitura, interpretação e produção textual.
Conteúdo:Comparação e relação entre o gaúcho do conto “Trezentas Onças”, de Simões Lopes Neto, e o gaúcho apresentado pelo “Analista de Bagé”, do autor Luís Fernando Verissimo.
Objetivos:.
  • Conhecer algumas expressões do Analista de Bagé, por meio das explicações das professoras, a fim de motivar-se à leitura da crônica Raízes, de Luís Fernando Verissimo.
  • Ler a crônica Raízes, em silêncio, por meio de fotocópias, a fim de discuti-la e interpretá-la.
  • Debater a crônica em questão, por meio de uma conversa, sobre pontos importantes do texto, a fim de despertar a criticidade.
  • Responder as questões de interpretação textual, por meio de fotocópias, com o intuito de compreender melhor o texto.
  • Produzir cartazes, para que sejam comparados os tipos de gaúchos encontrados nos dois textos a fim de despertar escrita criativa.
  • Organizar exposição dos cartazes na escola, a fim de representar as releituras produzidas.





Metodologia:
Motivação: As professoras apresentarão algumas expressões do Analista de Bagé aos alunos, por meio da oralidade, a fim de instigá-los ao texto a ser lido.
“Pra besteira e financiamento do Banco do Brasil, sempre se arranja um jeito.”
“Se todo mundo fosse gaúcho, ser gaúcho não teria vantagem”
“Engraçado é gorda botando as calça”
“O gaúcho é o que é porque a bombacha dava espaço”
“Mais prestimosa que mãe de noiva em dia de casamento.”
“Mais enrolado que lingüiça de venda.”
“Mais por fora que joelho de escoteiro.”
“…e a indiada mentindo mais que guri pra entrar em baile.”
“Mais rápido do que enterro de pesteado.”
“Mais caro que argentina nova na zona.”
“Mais bagunça que espirro em farofa.”
“Mais comentada que vida de manicure.”
“Roda de carreta chega cantando e se vai gemendo.”
“Bravateiro como castelhano em chineiro”
“Mais vale ser touro brocha que boi tesudo.”
“Mais sagrado que Deus e a mãe, só dívida de jogo.”
“Mais seco que penico de cego.”
“Mais triste que tia em baile.”
“Quem gosta de aglomeramento é mosca em bicheira”
“Mais nervosa que gato em dia de faxina”

Atividade 1:
As professoras bolsistas distribuirão fotocópias da crônica Raízes, de Luís Fernando Veríssimo, paraos alunos lerem, silenciosamente.

Raízes
Pouco se sabe da vida pregressa—ou “os antes”, como ele mesmo diria- do analista de Bagé. Embora hoje tenha consultório na cidade grande e só atenda neuróticos importantes, cobrando muito e por minuto –segundo ele, “ que é pra ninguém se aboleta e inventar de passar dia” -, o analista de Bagé teve um começo difícil. Contam, inclusive, que ele percorria o interior do Rio Grande do Sula numa charrete, com um divã portátil, oferecendo tratamento de porta de estância em porta de estância.
-Buenas!
- Como lê vai?
-Par aí, gauderiando más que cigano e candidato.
-Pos se apeie e tome um mate.
_pos aceito. Sou como chiana passada, não arreganho convite,. E tou com a goela más seca que penico de cego.
-Oigatê. O amigo vende o quê?
-Pos sou psicanalista, tchê.
-Oigatê. Por aqui já apareceu até maranhense. Psicanalista é o primeiro.
-Sou freudiano e não renego.
-Freudiano, então, nem se fala.
-Será que não tem na casa alguém precisando de uma sessão ? Cinquenta minutos e aceito pagamento em charque.
-Pos a Orestina...
-Que tem?
-Anda com riso frouxo.
-Sei.
-Ri sozinha.
-Que cosa.
-Qualquer cosa. Se arreganha.
-Não é cócega?
-Que idade tem a bicha?
-Dezessete.
-Essa não tem nada.
-Mas ri até de topada.
-É da idade.
-E ela não corre perigo?
-Só de engravidá.
Ao contrário do que se pensa, o analista de Bagé mantém-se a par de todos os desenvolvimentos na área da psiquiatria, embora se declare “freudiano de oito costados” e “ “más ortodoxo que pomada Minâncora”. Ele tem uma boa e atualizada biblioteca que consulta com frequência. Sempre que pega um caso mais difícil, no entanto, o analista de Bagé recorre a um grosso volume em alemão na estante dos eu consultório. É entre suas páginas que guarda, escritas a toco de lápis em folhas soltas de um caderno de armazém, as máximas do seu pai, o velho Adão. Quando, diante de um caso “ dos encroado”, o analista de Bagé se vê “más apertado que jeans de fresco”, as máximas do velho Adão muitas vezes sugerem uma saída. Eis algumas delas:
“ Mate e china, quanto mais novo, mais quente.”
“Hay mil regras pra come, mas nenhuma pra cagá.”
“pra segura mulher em casa e cavalo em campo aberto, só carece de um pau firme.”
Dando a ideia de que o cúmplice é igual ao criminoso, ou então que muitas vezes o que parece sem importância é essencial: “A gengiva não morde, mas segura os dente.”
Sobre as sutis diferenças: “Milonga e tango? Quibebe e mogango.”
“ Puro-sangue ou bagual, a bosta é igual.”
Uma variação: “Meleca de rainha é igual à minha.”
Um sábio comentário sobre as interpretações subjetivas: “Roda de carreta chega cantando e se vai gemendo.”
Algumas comparações: “Braveteiro como castelhano em chineiro”. “ Sujo como pé de guri”, “Branco como catarina assustado”, “Duro como trança de beata.” “Más vale ser touro brocha que boi tesuado.”
“Pra guaipeca, pontapé é mimo.”
“Más sagrado que Deus e a mãe, só dívida de jogo.”
Das deduções simples: “Se a toca é ancha, o tatu é gordo.”
Do perigo das deduções apressadas: “Pela cabeleira, o julgamento é canhestro: pode ser china ou maestro.”
“Más seco que penico de cego.”
“Más triste que tia em baile.”
“Cavalo de borracho sabe onde o bolicho dá sombra.”
“Marido de parteira dorme do lado da parede” (significado obscuro).
“Viúva moça é como louça: já foi usada, mas não se joga fora. ”
“Se Deus fez o mundo em seis dias, só no Rio Grande gastou cinco. ”
Contam que o analista de Bagé, embora se declare “mais antigo que emplastro” e freudiano de usar carteirinha, não renega as novas técnicas de análise. Inclusive, inventou algumas. Segundo ele, o que vai longe sem sair do lugar é trilho. É preciso dinamizar a análise. Não se concebe mais que o paciente fale enquanto a anlista cochila. Por isto, depois de inventar a análise em grupo com gaiteiro, “pra indiada se soltá”, ele está experimentando com sessões externas ou “à la fresca”, durante as quais paciente e analista saem à rua, a a análise é feita em qualquer lugar, num banco de praça, até num balcão de cafezinho.
-Ainda estou na fase anal-retentiva, doutor. Tenho esta obsessão infantil em não dar nada, nunca , a ninguém.
-Mas que cosa. Me passa o açúcar.
-Não passo.
As sessões de rua são boas para o paciente, pois ele foge da passividade um pouco humilhante do divã. (Se bem que o analista de Bagé adaptou um mecanismo de cadeira de dentista so seu divã que, nos casos de complexo de inferioridade, vai ficando mais alto ao logo da sessão. “Controlo a altura na alpargata, e o citadito pensa que melhorou. ”) Para o analista também é bom, porque ele pode, por exemplo, ir ao banco e dar consulta ao mesmo tempo. Mas o que tem dado resultado mesmo são as análises no campo. Dependendo do caso, o analista de Bagé leva o paciente a caminhar no parque ou subir em morro. Ele nasceu na campanha e costuma dizer que é homem “de quatro horizontes”. E quando o paciente dá sinais de estar muito angustiado pela vida urbana, o analista de Bagé grita para Lindaura, sua recepcionista: “Prepara os isopor, que este é caso de piquenique. ” Aliás, ele diz que é tradicionalista de botar o Paixão num bolso e o Barbosa Lessa no outro, mas que hoje em dia não se admite gaúcho autêntico sem garrafa térmica. E vão pro mato.
Foi sentado debaixo de uma figueira, mastigando um talo, que o analista de Bagé ouviu a sua paciente- “mais linda que manta de charque gordo”, como diria depois- declarar que não conseguia sentir prazer com homem algum, a não ser que houvesse a ameaça de punição. O analista de Bagé tentou manter o distanciamento clínico, mas estava batendo sol na bombacha e não deu. Olhou rapidamente em volta e avistou um relvado na forma de uma cama redonda.
Deus existe, pensou, e Freud está à sua direita, anotando tudo. Sutilmente, o analista de Bagé sugeriu:
-Tira a roupa.
-Serei punida, depois?
-Mas bá.
-Como? Pelo sentimento de culpa?
-Não.
-Desenvolverei uma neurose? Meu ego, que exige a punição, combaterá meu id, que ser satisfeito a qualquer custo, mesmo sabendo que ter relações com meu analista, que personifica o meu superego, não me causará culpa, pois posso racionalizá-las como terapia de apoio? Será esse o meu castigo?
-Não.
-Então qual?
-Urticária.
-Oba.

Atividade 2:
As professoras entregarão as questões de interpretação textual, por meio de fotocópias, para os discentes responderem, individualmente.

Responda:

  1. Qual a relação entre o título do texto e o seu conteúdo?
  2. O texto lido pertence a um gênero específico. Que gênero é esse? Como ele é estruturado?
  3. Quais são as principais características do gaúcho apresentadonotexto Raízes?
  4. O texto apresenta algumas expressões gauchescas. Retire as que mais lhe chamar a atenção e procureno dicionário qual o significado delas.
  5. Que tipo de linguagem é utilizada no texto Raízes?
  6. Você conhece alguém que utiliza esse tipo de linguagem no dia a dia?
  7. Quais são as diferenças encontradas no conto Trezentas Onças e na crônica Raízes em relação às representações do gaúcho? ?
  8. A partir dos dois textos lidos, é possível perceber o estilo de cada escritor? Justifique.
  9. Nos dias atuais, como o gaúcho é visto perante à sociedade?
  10. Hoje, qual texto se enquadraria mais no perfil do gaúcho? Por quê?
  11. Escreva quais são as principais características do gaúcho apresentado em:
Trezentas Onças:
Raízes:
  1. Qual o intuito do escritor ao utilizar esse tipo de vocabulário na crônica? Justifique com passagens do texto?

Atividade 7:Em trios, os alunos farão cartazes, a fim de apresentar as diferenças do gaúcho, encontradas em cada texto, por meio de figuras, desenhos, recortes, palavras.... Enfim, usando a criatividade. Esses cartazes serão expostos na sala de aula.
Recursos:
- Fotocópias do texto.
- Fotocópias das questões.
- Lápis, borracha e caneta.
- Cartolinas coloridas.

Avaliação:

Será satisfatório se os alunos participarem ativamente da atividade de motivação, leitura do texto, do debate oral, interpretação e produção textual.  Cada aluno será avaliado individualmente, através do empenho e dinamismo nas atividades propostas.

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