Leituras literárias: escritas e diálogos intermidiáticos

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Escola Estadual de Ensino Médio Felipe Marx
Nomes dos bolsistas: Anderson Bueno Araújo e Carla Vanusa Coco
Turma: T8A
Supervisora: Lisandra
PLANO DE AULA
OBJETIVOS GERAIS:
-Trabalhar com os alunos o conto “O Gato Preto”, de Edgar Allan Poe.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
- Verificar se os alunos conhecem e/ou acreditam em superstições.
- Trabalhar a interpretação de texto com os demais a fim de que possamos averiguar como anda sua interpretação e escrita.
METODOLOGIA:
- O professor levará para a sala uma caixa “misteriosa” contendo imagens relacionadas a superstições populares e passará entre os alunos para que cada um retire uma imagem e questionará os alunos se eles são supersticiosos.
- Após esse momento, distribuiremos as cópias do texto “O gato preto”, acenderemos algumas velas na sala de aula, apagaremos as luzes, e, com as velas acesas, começaremos a ler o resumo do conto “o Gato Preto”, de Edgar Allan Poe.
- Em seguida, distribuir para os alunos as questões de leitura descoberta e pós leitura sobre o texto.
RECURSOS:
- Cópias xerocadas do texto e das questões de interpretação sobre o texto “O gato preto”
- Velas
- Imagens de objetos supersticiosos
- Caixa de sapato

CRONOGRAMA:
- Duas aulas de 45 minutos cada.


O gato preto

Poucos vão acreditar nesta estranha história que vou contar. No entanto tudo isso aconteceu realmente comigo e posso garantir que não foi um sonho.
Desde menino sou conhecido por meu temperamento dócil e meu bom coração. Tanto que até outros meninos, não tão bonzinhos quanto eu, às vezes riam de mim. A coisa de que eu mais gostava no mundo eram os animais, nada me fazia mais feliz do que lhes dar de comer ou brincar com eles.
Casei-me muito moço. Tive a sorte de encontrar uma companheira que sentia pelos bichos o mesmo afeto que eu. Tivemos um lindo cachorro, um peixinho dourado, passarinhos, coelhos e um gato. Um grande gato preto, lindo e inteligentíssimo. Minha mulher era um pouco supersticiosa e costumava me lembrar da lenda de que os gatos pretos são bruxas disfarçadas. Mas nunca dei atenção a ela. Plutão, era assim que se chamava nosso gato, tornou-se meu fiel companheiro e me seguia por toda a parte.
Nossa amizade durou muitos anos. E só se modificou porque uma mudança profunda aconteceu em mim. Adquiri o vício da bebida e fui me tornando irritável, rude. Eu me embrutecera.
Não apenas me descuidei de mim, de minha mulher e de meus bichos, como os maltratava com a maior crueldade. Cheguei até a agressão física. Durante certo tempo, Plutão, meu bicho preferido, foi poupado dos maus tratos. Por fim, chegou a sua vez.
Uma noite, cheguei em casa bêbado, amargurado e de péssimo humor. Cismei que Plutão que Plutão não queria nem olhar pra mim, fiquei uma fera com ele. Sem pensar no que fazia, agarrei-o com força pelo rabo, o bichinho reagiu: debateu-se e me arranhou a mão com suas unhas afiadas. Isso me fez perder totalmente o controle. Senti uma fúria desconhecida. Com um gesto rápido saquei um canivete que levava no bolso e, zás!, furei-lhe o olho.
Quando acordei no dia seguinte, pensei muito na mal que havia cometido. Mas esses pensamentos duraram pouco e minha vida seguiu o mesmo rumo. Continuaram as noitadas nos bares, as violências à minha mulher e aos animais.
Plutão logo sarou, mas sua imagem de gato caolho me atormentava, sua simples presença me fazia sentir ódio. Certa manhã, movido por uma força estranha, agarrei o gato, enrolei-lhe uma corda no pescoço e pendurei-o no galho de uma árvore do jardim da minha casa. Enforquei-o.
Naquela mesma noite acordei sobressaltado com gritos de “fogo! fogo!”. Levantando-me, vi que a casa toda ardia em chamas. Com grande sacrifício, escapamos vivos, mas a destruição foi completa.
 No dia seguinte, com o fogo já apagado, voltamos para casa. Estava praticamente em ruínas. Num canto, vi um grupo de velhotas bisbilhoteiras em frente da única parte que havia ficado em pé: uma parede do nosso quarto. As velhas exclamavam: “Que esquisito, que coisa mais estranha!” Aproximei-me intrigado. Na parede que tinha se salvado aparecera uma grande silhueta preta com a forma... de um gato! O animal tinha uma corda enrolada no pescoço! Ao vê-lo fiquei terrivelmente assustado. Não entendi nada, só senti que o medo paralisava meu corpo.
Por alguns dias notei uma sensação parecida com o remorso, cheguei a sentir necessidade de arranjar outro gato. Uma noite, numa escura e triste taberna, pareceu-me ver em cima de um velho tonel de vinho uma sombra negra. Como a luz era pouca, tive de forçar a vista para me dar conta de que era um gato, um lindo gato preto, em tudo parecido com o Plutão, menos numa coisa: tinha uma mancha branca no peito.
O gato não tinha dono e quando saí da taberna me seguiu e não se separou de mim até eu chegar à minha nova casa. No mesmo instante, fez-se amigo ad minha mulher e sentiu-se bem conosco, de modo que decidimos ficar com ele. A alegria durou pouco. Na manhã seguinte, descobri que o gato não tinha um olho, exatamente o mesmo do Plutão. Ver aquilo me desagradou tanto que nunca mais olhei para ele com simpatia.
Na verdade, em muito pouco tempo eu odiava muito mais que ao Plutão. Meu humor piorava a cada dia, quem mais sofria com isso era minha pobre esposa. Tinha de agüentar meu mau gênio, e a cada dia que passava eu era mais desagradável com ela, principalmente quando protegia o gato mais que o normal, talvez por se lembrar do que havia acontecido com Plutão.
Foi ela a primeira a notar que a mancha branca que o gato tinha no peito havia mudado. A nuvem comprida de pelo branco havia se transformado numa mancha de forma reconhecível e concreta: uma forca. Ainda tentei me convencer de que não passava de imaginação nossa, mas a partir desse momento, quando o gato se plantava diante de mim, me parecia um monstro.
Uma tarde, o gato passou entre as minhas pernas de tal maneira que quase me derrubou. Irritei-me tanto com aquilo, que agarrei um machado com a intenção de matá-lo. Minha mulher agarrou meu braço com todas as suas forças, impedindo-me de levar meu intento a cabo. Não consegui me dominar e, num abrir e fechar de olhos, pulei como uma fera sobre a minha esposa. Com todo o meu ímpeto, abri sua cabeça com uma machadada.
Quando me dei conta de que a tinha matado, decidi rápida e friamente que tinha de esconder o corpo, senão ia parar na cadeia. Pensei em mil maneiras de ocultá-lo e por fim concluí que o melhor seria escondê-lo na minha própria casa.
Ocorreu-me uma ideia, que me pareceu brilhante: esconder o corpo atrás de uma parede, emparedá-lo. Estava angustiado, mas não havia tempo a perder. Depois de bater com um pedaço de pau em todas as paredes do porão, notei que uma delas produzia um ruído oco. Tirei o gesso, até descobrir que os tijolos tinham a forma de uma velha lareira.
No dia seguinte, introduzi na lareira o corpo da minha amada esposa, tapei o buraco com tijolo e revesti novamente a parede de gesso. Terminado o trabalho, procurei o gato por todos os cantos da casa, mas não o achei. Tinha sumido. Seu desaparecimento produziu em mim uma paz que eu não conhecia havia muitos anos. Quase no mesmo instante reencontrei a felicidade, o sono profundo e o prazer de estar em casa.
 Dias mais tarde a polícia começou a investigar o sumiço da minha mulher. Na terceira ou quarta vez que vieram em casa, disseram que queriam inspecionar o porão. Desci com eles, que revistaram tudo. Estavam a ponto de ir embora, quando eu, movido por uma alegria transbordante, não consegui evitar de fazer um breve discurso do despedida:
“Senhores, sinto-me encantado por ter desfeito suas suspeitas. A propósito, esta é uma casa bem construída... Vejam que paredes sólidas tem este porão para sustentar os andares!”
Por vaidade, comecei a bater com minha bengala justo na parede onde estava minha mulher, para demonstrar a solidez das paredes. Quando a bengala golpeou-a, um leve ruído saiu lá de dentro. Primeiro ouviu-se algo parecido com o choro de uma criança, mas rapidamente ficou mais alto até se transformar num grito inumano, aterrorizante. Minhas pernas tremeram, fiquei sem respirar, o medo me paralisou. Meus olhos arregalados refletiam meu espanto. Quase não me agüentei de pé.
Os policiais reagiram com rapidez, puseram-se a procurar atrás da parede. Tiraram o gesso, chegaram aos tijolos e, ao retirá-los, apareceu o cadáver já decomposto de minha mulher. Para surpresa de todos, vimos sobre sua cabeça o gato preto, mais vivo do que nunca. Sua boca estava bem aberta, mostrando seus dentes ameaçadores, e seu único olho parecia cuspir fogo. Era a própria imagem do demônio! Era a fera que tinha me levado a cometer um assassinato e a voz que me havia denunciado. Sem perceber, eu havia emparedado o gato com a minha mulher!

                                                               EDGAR ALLAN POE. In: Grande livro do medo. Adaptação: Xavier Valls. Tradução: Eduardo Brandão. São Paulo: Girafinha, 2006.


Interpretação do texto

1) A história é narrada em primeira ou terceira pessoa?
2) Quais eram as características do protagonista no início da história e como era o relacionamento com a sua esposa?
3) No decorrer da história, acontece uma mudança na vida do protagonista. Que mudança foi essa e o que a provocou?
4)  Num momento de irritação o narrador fura olho do seu gato. O que o leva, posteriormente, a enforcar Plutão no jardim?
5)  Após ter assassinado o gato, a casa do protagonista pega fogo, mas a parede de seu quarto fica em pé. O que é encontrado nessa parede? Qual seria a possível relação entre esses acontecimentos?
6) O protagonista acaba encontrando um outro gato de estimação. Por que ele passa a ver esse gato como um monstro?
7) O que leva o protagonista a assassinar sua mulher, como ele o faz e que fim ele dá para o corpo dela?
8) Como a polícia descobriu o lugar onde estava o corpo da mulher?
9) Você acredita na lenda que diz que gatos pretos são na verdade bruxas disfarçadas? O conto condiz com a lenda? Explique.
10) Atividade de pós-leitura:

* Escolha uma das superstições da “caixa misteriosa” e produza uma narrativa sobre ela.

                                                                                 ANEXOS

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