Leituras literárias: escritas e diálogos intermidiáticos

terça-feira, 14 de junho de 2016



Planejamento com alunos 1°ano Ensino Médio noturno - Colégio Theóphilo Sauer

Plano de aula 9 - Bolsistas Vanderlei Linden e Denise Hack

 
 Data: 22/06/2016.
Carga horária: dois períodos, das 19h00m às 20h38min.
Assunto: Conto “A carteira” de Machado de Assis.

 Objetivos:
  • Elaborar um bilhete para um colega da turma.
  • Expressar o conteúdo do bilhete para outro colega, sem ser o destinatário inicial;
  • Conhecer melhor o maior escritor da literatura brasileira “Machado de Assis”;
  • Trabalhar questões de interpretação do conto com a atualidade.
Metodologia: Os alunos deverão realizar a dinâmica do bilhete, sentados cada um em seu lugar, após devem dar sequencia a dinâmica conforme as orientações dos professores. Após os alunos receberão impresso o conto “A carteira” para ler e interpretar questões pertinentes ao conto e também com questões de relação do conto com a atualidade.
Recursos: 
- Folhas recortadas em quadradinhos para escrever o bilhete;
- Papéis dobrados ao meio, com o nome de cada aluno, para o amigo secreto;
- Conto impresso “A carteira” e questões de interpretação.
Atividades propostas:
Atividade 01: Os alunos deverão escrever um bilhete para um colega da turma, mas não devem colocar o nome do destinatário.
Atividade 02: Será feito um amigo secreto, cada aluno retira um papel com o nome de colega e esse será o destinatário do bilhete escrito anteriormente. 
Atividade 03: O aluno deve dizer a pessoa que pegou no amigo secreto e ler o bilhete que havia escrito no inicio da dinâmica.  Assim até passar por todos da turma.
Atividade 04: Os alunos receberão o material impresso e responderão as questões pertinentes ao conto de Machado de Assis, e terá também questões comparativas com a atualidade.


Joaquim Maria Machado de Assis foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional.       

  A CARTEIRA - Conto
...De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
- Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.
- É verdade, concordou Honório envergonhado.
Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem.
- Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da casa.
- Agora vou, mentiu o Honório.
A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais.
D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.
Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.
- Nada, nada.
Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto para a luta. Estava com, trinta e quatro anos; era o princípio da carreira: todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou: emprestado, para pagar mal, e a más horas.
A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua. da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando.
Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, - enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo.
Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinqüenta e vinte; calculou uns setecentos mil-réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la.
Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para quê? era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis. Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos... Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal.
"Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro," pensou ele.
Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?... Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dois cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele.
A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões, mas ele resistiu.
"Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer."
Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado, e a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa.
- Nada.
- Nada?
- Por quê?
- Mete a mão no bolso; não te falta nada?
- Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou?
- Achei-a eu, disse Honório entregando-lha.
Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações precisas.
- Mas conheceste-a?
- Não; achei os teus bilhetes de visita.
Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor. 

Questões a partir do conto:

1.      Ache no texto elementos que comprovem que o personagem Honório estava endividado.
 
2.      Transcreva do texto o momento que Honório abre a carteira e o que ele viu lá.
 
3.      Enumere conforme a ordem de acontecimentos do texto.
(    ) Achou cartas que não abriu...
(    ) ...era um bilhetinho de amor.
(    ) A verdade é que ia mal.
(    ) Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria.
(    ) Achei-a eu, disse Honório entregando-lha.
(    )A dívida não  parece grande para um homem da posição de Honório.

4.      No trecho do texto abaixo, substitua as palavras em negrito por sinônimos.
“Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal“.
Crer______________ Achado:_______________  Restituí-lo:__________________

5.      Explique as atitudes de Gustavo, D. Amélia e Honório no último parágrafo do texto.


6.      Qual foi a dúvida que atormentou Honório após a carteira?
 7.      Se no lugar de Honório fosse você que  achasse  a carteira, você teria feito diferente dele?          O que faria?

8.      Explique com suas palavras porque ao descobrir quem era o dono da carteira, Honório entristeceu.

9.      Enumere conforme o conto:
(    ) Não; achei os teus bilhetes de visita.
(    ) Falta-me a carteira...
(    )Tu agora vais bem, não?
(    )”Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer.”
(    )”Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro,”
 
(a)   Gustavo
(b)   Honório
(c)   Pensamentos de Honório
(d)   D. Amélia

10.  Reescreva o final deste conto a partir do momento que Honório acha a carteira com dinheiro.  Não esqueça de colocar o título e um final diferente. No mínimo 15 linhas.

 

 

 

 

 


 

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