COLÉGIO
MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL THEÓPHILO SAUER
Planejamento: Trabalho com o Conto O gato preto de
Edgar Allan Poe
1.
Objetivos: Trabalhar o gênero conto de terror.
2.
Conteúdos: Conto:.
Interpretação do texto e produção de um marcador de texto.
3.
Tempo:2 períodos
4.
Recursos: Texto
xerocado e a introdução da atividade textual aos alunos. Recorte de cartolina e
vídeo.
5.
Procedimento:
- Atividade
de motivação;
-
Leitura individual do conto;
-
Distribuição dos textos aos alunos;
-
Interpretação do conto;
-Produção
de marca texto
6. Avaliação:
Avaliação será dada a partir das produções e da
participação do aluno.
É a crença baseada na idéia de que determinadas atitudes,
números ou palavras trazem azar ou sorte. Pode ser pessoal, religiosa ou
cultural. Pode ser classificada como superstição religiosa a atitude de abrir
uma página da Bíblia ao acaso acreditando que irá obter a resposta para sua
aflição.
Conheça algumas crenças culturais universais:
GUARDA-CHUVA
Dentro de casa, o guarda-chuva deve ficar sempre fechadinho.
Segundo uma tradição oriental, abri-lo dentro de casa traz infortúnios e
problemas de saúde aos familiares.
GATO PRETO
Na Idade Média, acreditavam-se que os gatos eram bruxas
transformadas em animais. Por isso, a tradição diz que cruzar com um gato preto
é azar na certa. Essa superstição teve origem na Idade Média, quando se
acredita que os felinos, devido a seus hábitos noturnos tinham pacto com o
demônio, principalmente se o bichano fosse de cor negra, pois essa cor era
associada às trevas.
TREVO DE 4 FOLHAS
Raramente é encontrado um Trevo de 4 folhas e, quando isto
acontece, é interpretado como sinal de boa sorte, possibilitando-se alcançar a
realização de suas aspirações e desejos.
O NÚMERO 13
É tido ora como sinal de infortúnio, ora de bom agouro. Se
uma sexta-feira cair no dia 13 de um mês é um mau sinal. Todo cuidado é pouco
nesse dia.
O número treze é tão temido que há lugares onde os prédios
não possuem o décimo terceiro andar.
ESPELHO QUEBRADO
A superstição prega que serão sete anos de má sorte. Ficar
se admirando num espelho quebrado é ainda pior - significa quebrar a própria
alma. Ninguém deve se olhar também num espelho à luz de velas. Não permita
ainda que outra pessoa se olhe no espelho ao mesmo tempo que você.
FERRADURA
Segundo registros, o objeto já era considerado um amuleto
poderoso na Grécia Antiga. Em primeiro lugar porque era feito de ferro,
elemento que os gregos acreditavam proteger contra todo mal. E seu formato
lembrava a Lua crescente, símbolo de fertilidade e prosperidade. Já os cristãos
europeus acreditavam que sua origem se
deve a São Dunstan de Canterbury, arcebispo inglês conhecido como grande
estudioso da metalurgia. Diz à lenda que, Dunstan teria posto ferraduras no
demônio e somente as retirou após ouvir a promessa do diabo de que nunca mais
se aproximaria do objeto.
ELEFANTE
Ter um elefante de enfeite, sobre um móvel qualquer, sempre
com a tromba erguida mas de costas para a porta de entrada, evita a falta de
dinheiro.
ESCADA
Nunca passar por debaixo de uma escada, pois ela é a imagem
da subida, do acesso social, da elevação. E passar por debaixo do que se eleva
é simbolicamente renunciar, afastar-se do que progride, vence. Resultando na
perca da boa sorte.
Conto: O gato preto – Edgar Allan Poe
Atividade de motivação:
1) Preparar uma sala ambiente,com miados de gatos.
2) Contar a turma e questioná-los das
crendices/superstições conhecidas e por que delas.
.
Atividade de pré-leitura
1) Você já ouviu alguma história ou assistiu a algum
filme de terror?
2) Você gosta de história de terror?
3) Você sente medo quando alguém conta uma história de
terror?
4) Você já ouviu falar de alguma história de gatos?
Especialmente gatos pretos?
5) Você vivenciou alguma coisa aterrorizante que o
deixou com medo?
Leitura do conto: “O gato preto” de Edgar Allan Poe
Edgar Allan Poe
Edgar Allan Poe
Poe nasceu em 1809 e
morreu em 1849. Sua obra é vasta em qualidade artística e transita por diversos
gêneros. O autor escreveu desde poemas até novelas, porém os contos são
considerados a parte mais relevante de sua obra. "Crimes na rua
Morgue", short story de sua autoria, inaugura, em 1841, o gênero policial.
No entanto, o autor norte-americano pode ser considerado um escritor fantástico
antes de ser contista policial, pois suas obras vão muito além de tramitações
de crimes. Os crimes de Edgar Allan Poe costumam ser envoltos em situações
sobrenaturais, enigmáticas e misteriosas; causando hesitação, curiosidade e
aguçando a perspicácia de seus leitores.
Fonte:
Wikipedia
Atividade de pós-leitura
Escola Municipal Theóphilo
Sauer – Turma: 182 – Aula de Português
Aluno(a): ________________________________________
n.º: _____
PROFESSORES BOLSISTAS:
JANAÍNA DA ROSA E ELEMAR GOMES
O gato preto, Edgar Allan Poe (conto adaptado)
Não espero que acreditem na história que vou
contar, pois até eu me nego a aceitá-la, porém amanhã morrerei, e por isso
gostaria de aliviar meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo,
clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de acontecimentos
domésticos, que me aterrorizaram, torturaram e destruíram.
Desde
pequeno gostei muito de animais. Casei cedo e tive a sorte de encontrar em
minha mulher gosto semelhante ao meu. Tínhamos as mais agradáveis espécies de
bichos, dentre eles um gato todo negro e de espantosa sagacidade. Minha mulher,
que era um tanto supersticiosa, ao referir-se a sua inteligência, fazia
frequentes alusões à antiga crença popular de que todos os gatos pretos são
feiticeiras disfarçadas. O gato chamava-se Pluto, e era com ele que eu mais me
distraía. Só eu o alimentava, e ele me seguia por toda parte. Nossa amizade
durou vários anos, durante os quais meu temperamento e caráter sofreram devido
ao demônio da intemperança, provocada pelo alcoolismo. Tornava-me cada dia mais
irritadiço, indiferente aos sentimentos dos outros. Cheguei até mesmo a tratar
minha mulher com violência e maltratar meus animais. Pluto era ainda o único
ser que despertava em mim consideração suficiente que me impedia de
maltratá-lo. Com o tempo, tornei-me tão rabugento que até o gato começou a
sentir os efeitos de meu mau humor.
Certa noite, ao voltar para casa, muito
embriagado, tive a impressão de que ele evitava a minha presença. Apanhei-o, e
ele assustado com minha violência, feriu-me, levemente, a mão com os dentes.
Uma fúria demoníaca apoderou-se de mim. De súbito, minha alma abandonou meu
corpo, e uma perversidade mais que diabólica fez vibrar todas as fibras de meu
ser. Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e
arranquei um de seus olhos.
De manhã, passada a bebedeira, senti um
misto de horror e remorso; mas não passou de um sentimento superficial e
equívoco. Mergulhei novamente em excessos, afogando no vinho a lembrança do que
acontecera. O gato, apesar do aspecto horrendo causado pela falta do olho, se
restabeleceu. Depois desse dia ele pegou horror a mim. Sofri com aquela
evidente aversão vinda de um animal que, antes, me amara tanto, mas esse
sentimento logo se transformou em irritação. Uma manhã, a sangue frio, meti-lhe um
nó corredio em torno do pescoço e enforquei-o no galho de uma árvore. Fi-lo com
os olhos cheios de lágrimas, com o coração transbordante do mais amargo
remorso. Enforquei-o porque sabia que ele me amara, e porque reconhecia que não
me dera motivo algum para que me voltasse contra ele. Eu sabia que estava
cometendo um pecado — um pecado mortal que comprometia a minha alma imortal,
afastando-a, se é que isso era possível, da misericórdia infinita de um Deus
misericordioso e terrível.
Na noite do dia em que foi cometida essa
ação tão cruel, fui despertado pelo grito de "fogo!". As cortinas de
minha cama estavam em
chamas. Toda a casa ardia. Foi com grande dificuldade que
minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. A destruição foi
completa. Todos os meus bens terrenos foram tragados pelo fogo, e, desde então,
me entreguei ao desespero. [...]
No dia seguinte ao do incêndio, visitei as
ruínas. As paredes, com exceção de apenas uma, tinham desmoronado. Essa única
exceção era constituída por um fino tabique interior, situado no meio da casa,
junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O reboco havia, aí, em
grande parte, resistido à ação do fogo — coisa que atribuí ao fato de ter sido
ele construído recentemente. Densa multidão se reunira em torno dessa parede, e
muitas pessoas examinavam, com particular atenção e minuciosidade. Aproximei-me
e vi, como se gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um
gato gigantesco. A imagem era de uma exatidão verdadeiramente maravilhosa.
Havia uma corda em tomo do pescoço do animal.
Logo que vi tal aparição, o assombro e
terror que me apoderaram foram extremos. Mas, finalmente, a reflexão veio em
meu auxílio. O gato, lembrei-me, fora enforcado num jardim existente junto a
casa. Aos gritos de alarma, o jardim fora imediatamente invadido pela multidão.
Alguém deve ter retirado o animal da árvore, lançando-o, através de uma janela
aberta, para dentro do meu quarto. Isso foi feito, provavelmente, com a
intenção de despertar-me. A queda das outras paredes havia comprimido a vítima
de minha crueldade no gesso recentemente colocado sobre a parede que
permanecera de pé. A cal do muro, com as chamas e o amoníaco desprendido da
carcaça, produzira a imagem tal qual eu agora a via.
Embora
isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo com
minha consciência, pois o surpreendente fato que acabo de descrever não deixou
de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante meses, não pude
livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em meu espírito
uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse. Cheguei,
mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar outro bichano da mesma espécie
e de aparência semelhante que pudesse substituí-lo.
Uma noite, em que me achava sentado, meio
aturdido, num antro mais do que infame, tive a atenção despertada, subitamente,
por um objeto negro que jazia no alto de um dos enormes barris, de genebra ou
rum, que constituíam quase que o único mobiliário do recinto. Fazia já alguns
minutos que olhava fixamente o alto do barril, e o que então me surpreendeu foi
não ter visto antes o que havia sobre o mesmo. Aproximei-me e toquei-o com a
mão. Era um gato preto que, sob todos os aspectos, salvo um, se assemelhava a
Pluto. Ele não tinha um único pelo branco em todo o corpo — e o bichano que ali
estava possuía uma mancha larga e branca, de forma indefinida, a cobrir-lhe
quase toda a região do peito.
Ao acariciar-lhe o dorso, ergueu-se
imediatamente, ronronando com força e esfregando-se em minha mão, como se a
minha atenção lhe causasse prazer. Era, pois, o animal que eu procurava.
Apressei-me em propor ao dono a sua aquisição, mas este não manifestou
interesse algum pelo felino. Não o conhecia; jamais o vira antes. Continuei a
acariciá-lo e, quando me dispunha a voltar para casa, o animal demonstrou
disposição de acompanhar-me. Permiti que o fizesse — detendo-me, de vez em
quando, no caminho, para acariciá-lo.
Ao
chegar, sentiu-se imediatamente à vontade, como se pertencesse a casa,
tornando-se, logo, um dos bichanos preferidos de minha mulher. De minha parte,
passei a sentir logo aversão por ele. Acontecia, pois, justamente o contrário
do que eu esperava. Mas a verdade é que seu evidente amor por mim me desgostava
e aborrecia. Lentamente, tais sentimentos de desgosto e fastio se converteram
no mais amargo ódio. Evitava o animal. Uma sensação de vergonha, bem como a
lembrança da crueldade que praticara, impediam-me de maltratá-lo fisicamente.
Durante algumas semanas, não lhe bati nem pratiquei contra ele qualquer
violência; mas, aos poucos, passei a sentir por ele inenarrável horror,
fugindo, em silêncio, de sua odiosa presença, como se fugisse de uma peste.
Sem dúvida, o que aumentou o meu horror pelo
animal foi a descoberta, na manhã do dia seguinte ao que o levei para casa,
que, como Pluto, também havia sido privado de um dos olhos. Tal circunstância,
porém, apenas contribuiu para que minha mulher sentisse por ele maior carinho,
pois, como já disse, era dotada, em alto grau, dessa ternura de sentimentos que
constituíra, em outros tempos, um de meus traços principais, bem como fonte de
muitos de meus prazeres mais simples e puros.
No entanto, a preferência que o animal
demonstrava pela minha pessoa parecia aumentar em razão direta da aversão que
sentia por ele. Seguia-me os passos. Se me levantava para andar, metia-se-me
entre as pernas e quase me derrubava, ou então, cravando suas longas e afiadas
garras em minha roupa, subia por ela até o meu peito. Nessas ocasiões, embora
tivesse ímpetos de matá-lo de um golpe, abstinha-me de fazê-lo devido, em
parte, à lembrança de meu crime anterior, mas, sobretudo — apresso-me a
confessá-lo — , pelo pavor extremo que o animal me despertava.
Esse pavor não era exatamente um pavor de
mal físico e, contudo, não saberia defini-lo de outra maneira. Quase me
envergonha confessar — sim, mesmo nesta cela de criminoso — , quase me
envergonha confessar que o terror e o pânico que o animal me inspirava eram
aumentados por uma das mais puras fantasias que se possa imaginar. Minha
mulher, mais de uma vez, me chamara a atenção para o aspecto da mancha branca a
que já me referi, e que constituía a única diferença visível entre aquele
estranho animal e o outro, que eu enforcara. [...] Aquele sinal, embora grande,
tinha, a princípio, uma forma bastante indefinida. Mas, lentamente, de maneira
quase imperceptível, adquirira, por fim, uma nitidez rigorosa de contornos.
Era, agora, a imagem de um objeto cuja menção me faz tremer... E,
sobretudo por isso, eu o encarava como a um
monstro de horror e repugnância, do qual eu, se tivesse coragem, me teria
livrado. Era agora, confesso, a imagem de uma coisa odiosa, abominável: a
imagem da forca! Oh, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia
e de morte!
Na verdade, naquele momento eu era um
miserável, [...] uma besta-fera. [...] Nem de dia, nem de noite, conheceria
jamais a bênção do descanso! Durante o dia, o animal não me deixava a sós um
único momento; e, à noite, despertava de hora em hora, tomado do indescritível
terror de sentir o hálito quente da coisa sobre o meu rosto, e o seu enorme
peso [...] pousado eternamente sobre o meu coração!
Sob a pressão de tais tormentos, sucumbiu o
pouco que restava em mim de bom. Pensamentos maus converteram-se em meus únicos
companheiros [...]. Minha rabugice habitual se transformou em ódio por todas as
coisas e por toda a humanidade [...]. Minha mulher não se queixava nunca
convertendo-se na mais paciente e sofredora das vítimas. Um dia, acompanhou-me
[...] até o porão do velho edifício em que nossa pobreza nos obrigava a morar.
O gato seguiu-nos e, quase fazendo-me rolar escada abaixo, me exasperou a ponto
de perder o juízo. Apanhando uma machadinha e esquecendo o terror pueril que
até então contivera minha mão, dirigi ao animal um golpe que teria sido mortal,
se atingisse o alvo. Mas minha mulher segurou-me o braço, detendo o golpe.
Tomado, então, de fúria demoníaca, livrei o braço do obstáculo que o detinha e
cravei-lhe a machadinha no cérebro. Minha mulher caiu morta instantaneamente,
sem lançar um gemido.
Realizado o terrível assassínio, procurei,
movido por súbita resolução, esconder o corpo. Sabia que não poderia retirá-lo
da casa, nem de dia nem de noite, sem correr o risco de ser visto pelos
vizinhos. Ocorreram-me vários planos. Pensei, por um instante, em cortar o corpo
em pequenos pedaços e destruí-los por meio do fogo. Resolvi, depois, cavar uma
fossa no chão da adega. Em seguida, pensei em atirá-lo ao poço do quintal.
Mudei de ideia e decidi metê-lo num caixote, como se fosse uma mercadoria, na
forma habitual, fazendo com que um carregador o retirasse da casa. Finalmente,
tive uma ideia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo na adega,
como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.
Aquela adega se prestava muito bem para tal
propósito. As paredes não haviam sido construídas com muito cuidado e, pouco
antes, haviam sido cobertas, em toda a sua extensão, com um reboco que a
umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma saliência numa das paredes,
produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora tapada para que se
assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia facilmente retirar
os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do mesmo modo, sem
que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita.
E não me enganei em meus cálculos. Por meio
de uma alavanca, desloquei facilmente os tijolos e tendo depositado o corpo,
com cuidado, de encontro à parede interior. Segurei-o nessa posição, até poder
recolocar, sem grande esforço, os tijolos em seu lugar, tal como estavam
anteriormente. Arranjei cimento, cal e areia e, com toda a precaução possível,
preparei uma argamassa que não se podia distinguir da anterior, cobrindo com
ela, escrupulosamente, a nova parede. Ao terminar, senti-me satisfeito, pois
tudo correra bem. A parede não apresentava o menor sinal de ter sido rebocada.
Limpei o chão com o maior cuidado e, lançando o olhar em torno, disse, de mim
para comigo: "Pelo menos aqui, o meu trabalho não foi em vão".
O passo seguinte foi procurar o animal que
havia sido a causa de tão grande desgraça, pois resolvera, finalmente, matá-lo.
Se, naquele momento, tivesse podido encontrá-lo, não haveria dúvida quanto à
sua sorte: mas parece que o esperto animal se alarmara ante a violência de
minha cólera, e procurava não aparecer diante de mim enquanto me encontrasse
naquele estado de espírito. Impossível descrever ou imaginar o profundo e
abençoado alívio que me causava a ausência de tão detestável felino. Não
apareceu também durante a noite — e, assim, pela primeira vez, desde sua
entrada em casa, consegui dormir tranquila e profundamente. Sim, dormi mesmo
com o peso daquele assassínio sobre a minha alma.
Transcorreram o segundo e o terceiro dia — e
o meu algoz não apareceu. Pude respirar, novamente, como homem livre. O
monstro, aterrorizado fugira para sempre de casa. Não tornaria a vê-lo! Minha
felicidade era infinita! A culpa de minha tenebrosa ação pouco me inquietava.
Foram feitas algumas investigações, mas respondi prontamente a todas as
perguntas. Procedeu-se, também, a uma vistoria em minha casa, mas,
naturalmente, nada podia ser descoberto. Eu considerava já como coisa certa a
minha felicidade futura.
No quarto dia após o assassinato, uma
caravana policial chegou, inesperadamente, a casa, e realizou, de novo,
rigorosa investigação. Seguro, no entanto, de que ninguém descobriria jamais o
lugar em que eu ocultara o cadáver, não experimentei a menor perturbação. Os
policiais pediram-me que os acompanhasse em sua busca. Não deixaram de
esquadrinhar um canto sequer da casa. Por fim, pela terceira ou quarta vez,
desceram novamente ao porão. Não me alterei o mínimo que fosse. Meu coração
batia calmamente, como o de um inocente. Andei por todo o porão, de ponta a
ponta. Com os braços cruzados sobre o peito, caminhava, calmamente, de um lado
para outro. A polícia estava inteiramente satisfeita e preparava-se para sair.
O júbilo que me inundava o coração era forte demais para que pudesse contê-lo.
Ardia de desejo de dizer uma palavra, uma única palavra, à guisa de triunfo, e
também para tomar duplamente evidente a minha inocência.
— Senhores — disse, por fim, quando os
policiais já subiam a escada — , é para mim motivo de grande satisfação haver
desfeito qualquer suspeita. Desejo a todos os senhores ótima saúde e um pouco mais
de cortesia. Diga-se de passagem, senhores, que esta é uma casa muito bem
construída... (Quase não sabia o que dizia, em meu desejo de falar com
naturalidade.) Poderia, mesmo, dizer que é uma casa excelentemente construída.
Estas paredes — os senhores já se vão? — , estas paredes são de grande solidez.
Nessa altura, movido por pura e frenética
fanfarronada, bati com força, com a bengala que tinha na mão, justamente na
parte da parede atrás da qual se achava o corpo da esposa de meu coração. [...]
Mal o eco das batidas mergulhou no silêncio, uma voz me respondeu do fundo da
tumba, primeiro com um choro entrecortado e abafado, como os soluços de uma
criança; depois, de repente, com um grito prolongado, estridente, contínuo,
completamente anormal e inumano. Um uivo, um grito agudo, metade de horror,
metade de triunfo, como somente poderia ter surgido do inferno, da garganta dos
condenados, em sua agonia, e dos demônios exultantes com a sua condenação.
[...] Sentindo-me desfalecer, cambaleei até à parede oposta. Durante um
instante, o grupo de policiais deteve-se na escada, imobilizado pelo terror.
Decorrido um momento, doze braços vigorosos
atacaram a parede, que caiu por terra. O cadáver, já em adiantado estado de
decomposição, e coberto de sangue coagulado, apareceu, ereto, aos olhos dos
presentes. Sobre sua cabeça, com a boca vermelha dilatada e o único olho
chamejante, achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao
assassínio e cuja voz reveladora me entregava ao carrasco. Eu havia emparedado
o monstro dentro da tumba!
Interpretação
do texto O gato preto
1)
O narrador sofre uma transformação ao longo da história. O que causou essa transformação?
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2) Caracterize o narrador:
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3) Quem narra a história? O narrador é em primeira
ou terceira pessoa? Justifique.
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4) Por que o narrador arrancou um olho do gato?
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5) Assim como Pluto, existem outros animais que
sofrem maltratos. Você conhece histórias de violência contra animais em sua
vizinhança?
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6) O texto apresenta fatos em sequência. Complete
o quadro abaixo de modo a resumir os acontecimentos narrados.
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7) O que aconteceu com o narrador depois que a
polícia encontrou o corpo de sua esposa? Comprove com elementos do texto.
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8) Qual foi a pena que o homem recebeu pelo ato
criminoso? Justifique com elementos do texto.
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9) O narrador tem crise de consciência ao matar o
gato Pluto, mas isso não acontece após o assassinato da esposa. Como você
explicaria isso?
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10)
Sobre o
|
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¯
=
|
|
¯
-------------- para o inferno.
=
¯
|
11) Faça um
marcador de página em formato de gato. Use a criatividade.
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