ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO FELIPE MARX
Nomes
dos bolsistas:
Anderson B. Araújo e Carla Vanusa
Turma: T8A
Supervisora: Lisandra
PLANO DE AULA
OBJETIVOS GERAIS: Trabalhar
com os alunos o conto "Solfieri", de Álvares de Azevedo.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
-
Trabalhar a produção textual com os alunos.
- Trabalhar a interpretação de texto com os demais a
fim de que possamos averiguar como anda sua interpretação e escrita.
METODOLOGIA:
-O professor passará dois vídeos da minissérie "AMORTEAMO" <.https://www.youtube.com/watch?v=jyBBEPP-01w>
<https://www.youtube.com/watch?v=BTloF0_hTxY>
Após esse momento, questionará os alunos se eles conhecem alguma história de terror, suspense e mistério, envolvendo noivas.
Em seguida, distribuirá cópias aos alunos do conto "Solfieri", de Álvares de
Azevedo, realizando a leitura do conto para a turma
-
Após a leitura serão respondidas questões de interpretação textual.
- Por último, será solicitada a realização de uma produção
de texto.
RECURSOS:
-
Cópias xerocadas do texto e das questões de interpretação sobre o conto
"Solfieri", de Álvares de Azevedo.
CRONOGRAMA:
- Duas aulas de 45 minutos cada.
ANEXOS:
Solfieri
— Sabei-lo. Roma é a cidade do
fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no
leito da vendida se pendura o Crucifixo lívido. É um requintar de gozo blasfemo
que mescla o sacrilégio à convulsão do amor, o beijo lascivo à embriaguez da
crença!
— Era em Roma. Uma noite a lua
ia bela como vai ela no verão pôr aquele céu morno, o fresco das águas se
exalava como um suspiro do leito do Tibre. A noite ia bela. Eu passeava a sós
pela ponte de... As luzes se apagaram uma por uma nos palácios, as ruas se
fazias ermas, e a lua de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Uma sombra de
mulher apareceu numa janela solitária e escura. Era uma forma branca. — A face
daquela mulher era como a de uma estátua pálida à lua. Pelas faces dela, como
gotas de uma taça caída, rolavam fios de lágrimas.
Eu me encostei a aresta de um
palácio. A visão desapareceu no escuro da janela... e daí um canto se
derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de
frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento a
noite nos cemitérios cantando a nênia das flores murchas da morte.
Depois o canto calou-se. A
mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu a
ninguém: saiu. Eu segui-a.
A noite ia cada vez mais alta: a
lua sumira-se no céu, e a chuva caía as gotas pesadas: apenas eu sentia nas
faces caírem-me grossas lágrimas de água, como sobre um túmulo prantos de
órfão.
Andamos longo tempo pelo
labirinto das ruas: enfim ela parou: estávamos num campo.
Aqui, ali, além eram cruzes que
se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia soluçar: em torno dela
passavam as aves da noite.
Não sei se adormeci: sei apenas
que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não
fora uma ilusão: as urzes, as cicutas do campo-santo estavam quebradas junto a
uma cruz.
O frio da noite, aquele sono
dormido à chuva, causaram-me uma febre. No meu delírio passava e repassava
aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços e todo aquele devaneio se
perdia num canto suavíssimo...
Um ano depois voltei a Roma. Nos
beijos das mulheres nada me saciava: no sono da saciedade me vinha aquela
visão...
Uma noite, e após uma orgia, eu
deixara dormida no leito dela a condessa Bárbara. Dei um último olhar àquela
forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos,
gemendo ainda nos sonhos como na agonia voluptuosa do amor. Saí. Não sei se a
noite era límpida ou negra; sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez.
As taças tinham ficado vazias na mesa: nos lábios daquela criatura eu bebera
até a última gota o vinho do deleite...
Quando dei acordo de mim estava
num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de
um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: era
o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela,
naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertados... Era uma
defunta! ... e aqueles traços todos me lembraram uma idéia perdida. . — Era o
anjo do cemitério? Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara
abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como
chumbo...
Sabeis a historia de Maria
Stuart degolada e o algoz, "do cadáver sem cabeça e o homem sem
coração" como a conta Brantôme? — Foi uma idéia singular a que eu tive.
Tomei-a no colo. Preguei-lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim:
rasguei-lhe o sudário, despi-lhe o véu e a capela como o noivo as despe a
noiva. Era mesmo uma estátua: tão branca era ela. A luz dos tocheiros dava-lhe
aquela palidez de âmbar que lustra os mármores antigos. O gozo foi fervoroso —
cevei em perdição aquela vigília. A madrugada passava já frouxa nas janelas.
Àquele calor de meu peito, à febre de meus lábios, à convulsão de meu amor, a
donzela pálida parecia reanimar-se. Súbito abriu os olhos empanados. Luz
sombria alumiou-os como a de uma estrela entre névoa, apertou-me em seus
braços, um suspiro ondeou-lhe nos beiços azulados... Não era já a morte: era um
desmaio. No aperto daquele abraço havia contudo alguma coisa de horrível. O
leito de lájea onde eu passara uma hora de embriaguez me resfriava. Pude a
custo soltar-me daquele aperto do peito dela... Nesse instante ela acordou…
Nunca ouvistes falar da
catalepsia? É um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam
num sepulcro; sonho gelado em que sentem-se os membros tolhidos, e as faces
banhadas de lágrimas alheias sem poder revelar a vida!
A moça revivia a pouco e pouco.
Ao acordar desmaiara. Embucei-me na capa e tomei-a nos braços coberta com seu
sudário como uma criança. Ao aproximar-me da porta topei num corpo; abaixei-me,
olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja que aí dormira de ébrio,
esquecido de fechar a porta .
Saí. Ao passar a praça encontrei
uma patrulha.
— Que levas aí?
A noite era muito alta: talvez
me cressem um ladrão.
— É minha mulher que vai
desmaiada...
— Uma mulher!... Mas essa roupa
branca e longa? Serás acaso roubador de cadáveres?
Um guarda aproximou-se.
Tocou-lhe a fronte: era fria.
— É uma defunta...
Cheguei meus lábios aos dela.
Senti um bafejo morno. — Era a vida ainda.
— Vede, disse eu.
O guarda chegou-lhe os lábios:
os beiços ásperos roçaram pelos da moça. Se eu sentisse o estalar de um
beijo... o punhal já estava nu em minhas mãos frias...
— Boa noite, moço: podes seguir,
disse ele.
Caminhei. — Estava cansado.
Custava a carregar o meu fardo; e eu sentia que a moça ia despertar. Temeroso
de que ouvissem-na gritar e acudissem, corri com mais esforço.
Quando eu passei a porta ela
acordou. O primeiro som que lhe saiu da boca foi um grito de medo...
Mal eu fechara a porta, bateram
nela. Era um bando de libertinos meus companheiros que voltavam da orgia.
Reclamaram que abrisse.
Fechei a moça no meu quarto, e
abri.
Meia hora depois eu os deixava
na sala bebendo ainda. A turvação da embriaguez fez que não notassem minha
ausência.
Quando entrei no quarto da moça
vi-a erguida. Ria de um rir convulso como a insânia, e frio como a folha de uma
espada. Trespassava de dor o ouvi-la.
Dois dias e duas noites levou
ela de febre assim... Não houve como sanar-lhe aquele delírio, nem o rir do
frenesi. Morreu depois de duas noites e dois dias de delírio.
A noite saí; fui ter com um
estatuário que trabalhava perfeitamente em cera, e paguei-lhe uma estátua dessa
virgem.
Quando o escultor saiu, levantei
os tijolos de mármore do meu quarto, e com as mãos cavei aí um túmulo. Tomei-a
então pela última vez nos braços, apertei-a a meu peito muda e fria, beijei-a e
cobri-a adormecida do sono eterno com o lençol de seu leito. Fechei-a no seu
túmulo e estendi meu leito sobre ele.
Um ano — noite a noite — dormi
sobre as lajes que a cobriam. Um dia o estatuário me trouxe a sua obra.
Paguei-lha e paguei o segredo...
— Não te lembras, Bertram, de
uma forma branca de mulher que entreviste pelo véu do meu cortinado? Não te
lembras que eu te respondi que era uma virgem que dormia?
— E quem era essa mulher,
Solfieri?
— Quem era? seu nome?
— Quem se importa com uma
palavra quando sente que o vinho lhe queima assaz os lábios? quem pergunta o
nome da prostituta com quem dormia e que sentiu morrer a seus beijos, quando
nem há dele mister por escrever-lho na lousa?
Solfieri encheu uma taça e bebeu-a.
Ia erguer-se da mesa quando um dos convivas tomou-o pelo braço.
— Solfieri, não é um conto isso
tudo?
— Pelo inferno que não! por meu
pai que era conde e bandido, por minha mãe que era a bela Messalina das ruas,
pela perdição que não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés
na sua cova de terra, eu vô-lo juro — guardei-lhe como amuleto a capela de
defunta. Hei-la!
Abriu a camisa, e viram-lhe ao
pescoço uma grinalda de flores mirradas.
—Vede-la murcha e seca como o
crânio dela!
___________________________________________________________
Álvares de Azevedo (Manuel Antônio Álvares de
Azevedo), poeta, contista e ensaísta, nasceu em São Paulo em 12 de setembro de
1831, e faleceu o Rio de Janeiro, RJ, em 25 de abril de 1852. Patrono da Cadeira
n. 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto.
Interpretação
1) O texto é narrado em 1ª ou 3ª
pessoa? Justifique com passagens da narrativa.
2) Qual é o tema principal do
conto?
3)
Enumere a sequência narrativa do texto:
(
) Solfieri leva a moça para casa e tranca-a em seu quarto, mas dois dias
depois ela acaba morrendo de febre.
(
) Em uma noite enluarada de Roma, Solfieri vê uma bela moça debruçada em
uma janela, chorando.
(
) No bar, seu amigo o questiona
se tudo o que ele contara não era apenas um conto e ele prova que não com
grinalda da moça no peito.
(
) Ele vê a moça no caixão e a ama, após leva o corpo que ainda estava
vivo para sua casa.
4)
A narrativa acontece em mais de um ambiente. Descreva-os, comentando a importância
desses ambientes para a construção do clima de terror presente na história.
5) Analise física e psicologicamente o personagem
Solfieri e a mulher com quem se relaciona.
6) O conto apresenta fortes
características do Romantismo como a morte, o amor e a fuga da realidade
(bebida). Complete o quadro abaixo com partes do texto que exemplifiquem essas
características:
Amor
|
|
Morte
|
|
Fuga da realidade
|
|
7)
Segundo o Dicionário On-line, a necrofilia caracteriza-se pelo ato de violar cadáveres;
utilização de cadáver para saciar desejos sexuais; uso de cadáver com
finalidade sexual. Na sua opinião, o personagem Solfieri agiu realmente como um
necrófilo? Por quê?
8) Atividade de pós-leitura:
Opte por uma delas.
·
Em
grupos de no máximo quatro pessoas, façam uma releitura do conto, adaptando-o
para os dias atuais, podendo recontar a história por meio de fotos, vídeos ou
dramatizando-a para a turma;
·
O
autor Álvares de Azevedo foi um grande poeta do Romantismo e esse lirismo
também se faz presente no conto Solfieri. Portanto, faça uma releitura da
história, transformando-a em um poema que trate das características românticas
presentes no conto. Não se esqueça de que um poema é composto por estrofes,
versos, podendo conter rimas ou não.
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