Leituras literárias: escritas e diálogos intermidiáticos

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO FELIPE MARX
Nomes dos bolsistas: Anderson B. Araújo e Carla Vanusa
Turma: T8A
Supervisora: Lisandra
PLANO DE AULA
OBJETIVOS GERAIS: Trabalhar com os alunos o conto "Solfieri", de Álvares de Azevedo.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
- Trabalhar a produção textual com os alunos.
- Trabalhar a interpretação de texto com os demais a fim de que possamos averiguar como anda sua interpretação e escrita.

METODOLOGIA:
-O professor passará dois vídeos da minissérie "AMORTEAMO" <.https://www.youtube.com/watch?v=jyBBEPP-01w>
<https://www.youtube.com/watch?v=BTloF0_hTxY>
 Após esse momento, questionará os alunos se eles conhecem alguma história de terror, suspense e mistério, envolvendo noivas. 
Em seguida, distribuirá  cópias aos alunos do conto "Solfieri", de Álvares de Azevedo, realizando a leitura do conto para a turma
- Após a leitura serão respondidas questões de interpretação textual.
- Por último, será solicitada a realização de uma produção de texto.

RECURSOS:
- Cópias xerocadas do texto e das questões de interpretação sobre o conto "Solfieri", de Álvares de Azevedo.

CRONOGRAMA:
- Duas aulas de 45 minutos cada.

                                                                               ANEXOS:
Solfieri
                — Sabei-lo. Roma é a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o Crucifixo lívido. É um requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio à convulsão do amor, o beijo lascivo à embriaguez da crença!
                — Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela no verão pôr aquele céu morno, o fresco das águas se exalava como um suspiro do leito do Tibre. A noite ia bela. Eu passeava a sós pela ponte de... As luzes se apagaram uma por uma nos palácios, as ruas se fazias ermas, e a lua de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Uma sombra de mulher apareceu numa janela solitária e escura. Era uma forma branca. — A face daquela mulher era como a de uma estátua pálida à lua. Pelas faces dela, como gotas de uma taça caída, rolavam fios de lágrimas.
                Eu me encostei a aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela... e daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento a noite nos cemitérios cantando a nênia das flores murchas da morte.
                Depois o canto calou-se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu a ninguém: saiu. Eu segui-a.
                A noite ia cada vez mais alta: a lua sumira-se no céu, e a chuva caía as gotas pesadas: apenas eu sentia nas faces caírem-me grossas lágrimas de água, como sobre um túmulo prantos de órfão.
                Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas: enfim ela parou: estávamos num campo.
                Aqui, ali, além eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite.
                Não sei se adormeci: sei apenas que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não fora uma ilusão: as urzes, as cicutas do campo-santo estavam quebradas junto a uma cruz.
                O frio da noite, aquele sono dormido à chuva, causaram-me uma febre. No meu delírio passava e repassava aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços e todo aquele devaneio se perdia num canto suavíssimo...
                Um ano depois voltei a Roma. Nos beijos das mulheres nada me saciava: no sono da saciedade me vinha aquela visão...
                Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no leito dela a condessa Bárbara. Dei um último olhar àquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia voluptuosa do amor. Saí. Não sei se a noite era límpida ou negra; sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: nos lábios daquela criatura eu bebera até a última gota o vinho do deleite...
                Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertados... Era uma defunta! ... e aqueles traços todos me lembraram uma idéia perdida. . — Era o anjo do cemitério? Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo...
                Sabeis a historia de Maria Stuart degolada e o algoz, "do cadáver sem cabeça e o homem sem coração" como a conta Brantôme? — Foi uma idéia singular a que eu tive. Tomei-a no colo. Preguei-lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim: rasguei-lhe o sudário, despi-lhe o véu e a capela como o noivo as despe a noiva. Era mesmo uma estátua: tão branca era ela. A luz dos tocheiros dava-lhe aquela palidez de âmbar que lustra os mármores antigos. O gozo foi fervoroso — cevei em perdição aquela vigília. A madrugada passava já frouxa nas janelas. Àquele calor de meu peito, à febre de meus lábios, à convulsão de meu amor, a donzela pálida parecia reanimar-se. Súbito abriu os olhos empanados. Luz sombria alumiou-os como a de uma estrela entre névoa, apertou-me em seus braços, um suspiro ondeou-lhe nos beiços azulados... Não era já a morte: era um desmaio. No aperto daquele abraço havia contudo alguma coisa de horrível. O leito de lájea onde eu passara uma hora de embriaguez me resfriava. Pude a custo soltar-me daquele aperto do peito dela... Nesse instante ela acordou…
                Nunca ouvistes falar da catalepsia? É um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado em que sentem-se os membros tolhidos, e as faces banhadas de lágrimas alheias sem poder revelar a vida!
                A moça revivia a pouco e pouco. Ao acordar desmaiara. Embucei-me na capa e tomei-a nos braços coberta com seu sudário como uma criança. Ao aproximar-me da porta topei num corpo; abaixei-me, olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja que aí dormira de ébrio, esquecido de fechar a porta .
                Saí. Ao passar a praça encontrei uma patrulha.
                — Que levas aí?
                A noite era muito alta: talvez me cressem um ladrão.
                — É minha mulher que vai desmaiada...
                — Uma mulher!... Mas essa roupa branca e longa? Serás acaso roubador de cadáveres?
                Um guarda aproximou-se. Tocou-lhe a fronte: era fria.
                — É uma defunta...
                Cheguei meus lábios aos dela. Senti um bafejo morno. — Era a vida ainda.

                — Vede, disse eu.
                O guarda chegou-lhe os lábios: os beiços ásperos roçaram pelos da moça. Se eu sentisse o estalar de um beijo... o punhal já estava nu em minhas mãos frias...
                — Boa noite, moço: podes seguir, disse ele.
                Caminhei. — Estava cansado. Custava a carregar o meu fardo; e eu sentia que a moça ia despertar. Temeroso de que ouvissem-na gritar e acudissem, corri com mais esforço.
                Quando eu passei a porta ela acordou. O primeiro som que lhe saiu da boca foi um grito de medo...
                Mal eu fechara a porta, bateram nela. Era um bando de libertinos meus companheiros que voltavam da orgia. Reclamaram que abrisse.
                Fechei a moça no meu quarto, e abri.
                Meia hora depois eu os deixava na sala bebendo ainda. A turvação da embriaguez fez que não notassem minha ausência.
                Quando entrei no quarto da moça vi-a erguida. Ria de um rir convulso como a insânia, e frio como a folha de uma espada. Trespassava de dor o ouvi-la.
                Dois dias e duas noites levou ela de febre assim... Não houve como sanar-lhe aquele delírio, nem o rir do frenesi. Morreu depois de duas noites e dois dias de delírio.
                A noite saí; fui ter com um estatuário que trabalhava perfeitamente em cera, e paguei-lhe uma estátua dessa virgem.
                Quando o escultor saiu, levantei os tijolos de mármore do meu quarto, e com as mãos cavei aí um túmulo. Tomei-a então pela última vez nos braços, apertei-a a meu peito muda e fria, beijei-a e cobri-a adormecida do sono eterno com o lençol de seu leito. Fechei-a no seu túmulo e estendi meu leito sobre ele.
                Um ano — noite a noite — dormi sobre as lajes que a cobriam. Um dia o estatuário me trouxe a sua obra. Paguei-lha e paguei o segredo...
                — Não te lembras, Bertram, de uma forma branca de mulher que entreviste pelo véu do meu cortinado? Não te lembras que eu te respondi que era uma virgem que dormia?
                — E quem era essa mulher, Solfieri?
                — Quem era? seu nome?
                — Quem se importa com uma palavra quando sente que o vinho lhe queima assaz os lábios? quem pergunta o nome da prostituta com quem dormia e que sentiu morrer a seus beijos, quando nem há dele mister por escrever-lho na lousa?
                Solfieri encheu uma taça e bebeu-a. Ia erguer-se da mesa quando um dos convivas tomou-o pelo braço.
                — Solfieri, não é um conto isso tudo?
                — Pelo inferno que não! por meu pai que era conde e bandido, por minha mãe que era a bela Messalina das ruas, pela perdição que não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés na sua cova de terra, eu vô-lo juro — guardei-lhe como amuleto a capela de defunta. Hei-la!
                Abriu a camisa, e viram-lhe ao pescoço uma grinalda de flores mirradas.
                —Vede-la murcha e seca como o crânio dela!
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Álvares de Azevedo (Manuel Antônio Álvares de Azevedo), poeta, contista e ensaísta, nasceu em São Paulo em 12 de setembro de 1831, e faleceu o Rio de Janeiro, RJ, em 25 de abril de 1852. Patrono da Cadeira n. 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto.
Interpretação
1) O texto é narrado em 1ª ou 3ª pessoa? Justifique com passagens da narrativa.
2) Qual é o tema principal do conto?
3)  Enumere a sequência narrativa do texto:
(   ) Solfieri leva a moça para casa e tranca-a em seu quarto, mas dois dias depois ela acaba morrendo de febre.
(   ) Em uma noite enluarada de Roma, Solfieri vê uma bela moça debruçada em uma janela, chorando.
(   )  No bar, seu amigo o questiona se tudo o que ele contara não era apenas um conto e ele prova que não com grinalda da moça no peito.
(   ) Ele vê a moça no caixão e a ama, após leva o corpo que ainda estava vivo para sua casa.
4)  A narrativa acontece em mais de um ambiente. Descreva-os, comentando a importância desses ambientes para a construção do clima de terror presente na história.

5) Analise  física e psicologicamente o personagem Solfieri e a mulher com quem se relaciona.

6) O conto apresenta fortes características do Romantismo como a morte, o amor e a fuga da realidade (bebida). Complete o quadro abaixo com partes do texto que exemplifiquem essas características:

Amor


Morte


Fuga da realidade


7)  Segundo o Dicionário On-line, a necrofilia caracteriza-se pelo ato de violar cadáveres; utilização de cadáver para saciar desejos sexuais; uso de cadáver com finalidade sexual. Na sua opinião, o personagem Solfieri agiu realmente como um necrófilo? Por quê?
8) Atividade de pós-leitura: Opte por uma delas.
·         Em grupos de no máximo quatro pessoas, façam uma releitura do conto, adaptando-o para os dias atuais, podendo recontar a história por meio de fotos, vídeos ou dramatizando-a para a turma;

·         O autor Álvares de Azevedo foi um grande poeta do Romantismo e esse lirismo também se faz presente no conto Solfieri. Portanto, faça uma releitura da história, transformando-a em um poema que trate das características românticas presentes no conto. Não se esqueça de que um poema é composto por estrofes, versos, podendo conter rimas ou não.
               



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