Planejamento com alunos 1°ano Ensino Médio noturno - Colégio Theóphilo Sauer
Plano de aula 9 - Bolsistas Vanderlei Linden e Denise Hack
Carga
horária: dois períodos, das 19h00m às 20h38min.
Assunto:
Conto “A carteira” de Machado de
Assis.
Objetivos:
- Elaborar
um bilhete para um colega da turma.
- Expressar
o conteúdo do bilhete para outro colega, sem ser o destinatário inicial;
- Conhecer
melhor o maior escritor da literatura brasileira “Machado de Assis”;
- Trabalhar questões de interpretação do conto com a atualidade.
Metodologia: Os
alunos deverão realizar a dinâmica do bilhete, sentados cada um em seu lugar,
após devem dar sequencia a dinâmica conforme as orientações dos professores.
Após os alunos receberão impresso o conto “A
carteira” para ler e interpretar questões pertinentes ao conto e também com
questões de relação do conto com a atualidade.
Recursos:
- Folhas recortadas em quadradinhos para escrever o bilhete;
- Papéis dobrados ao meio, com o nome de cada aluno, para o amigo secreto;
- Conto impresso “A carteira” e questões de interpretação.
Atividades propostas:
Atividade 01: Os alunos deverão escrever um bilhete para um colega da turma, mas não devem colocar o nome do destinatário.
Atividade 02: Será feito um amigo secreto, cada aluno retira um papel com o nome de colega e esse será o destinatário do bilhete escrito anteriormente.
Atividade 03: O aluno deve dizer a pessoa que pegou no amigo secreto e ler o bilhete que havia escrito no inicio da dinâmica. Assim até passar por todos da turma.
Atividade 04: Os alunos receberão o material impresso e responderão as questões pertinentes ao conto de Machado de Assis, e terá também questões comparativas com a atualidade.
Joaquim Maria Machado de Assis foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional.
...De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
- Olhe, se não dá por
ela; perdia-a de uma vez.
- É verdade, concordou
Honório envergonhado.
Para avaliar a
oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã
uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo
recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que
advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as
circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos,
a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia
aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa
mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se.
Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a
um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a
darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem.
- Tu agora vais bem,
não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da casa.
- Agora vou, mentiu o
Honório.
A verdade é que ia
mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça
perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só
recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação
jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais.
D. Amélia não sabia
nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a
ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades.
Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas
pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de
música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava
com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.
Um dia, a mulher foi
achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos
molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.
- Nada, nada.
Compreende-se que era
o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com
facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto
para a luta. Estava com, trinta e quatro anos; era o princípio da carreira:
todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar,
pedir fiado ou: emprestado, para pagar mal, e a más horas.
A dívida urgente de
hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca demorou
tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe
punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau,
e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se
lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela
Rua. da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e
foi andando.
Durante os primeiros
minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até o Largo da
Carioca. No Largo parou alguns instantes, - enfiou depois pela Rua da Carioca,
mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a
pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um
Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo
de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele.
Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência
perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava
com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura.
Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A
consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à
polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os
apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira.
Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém
iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo.
Tudo isso antes de
abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às
escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não
contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinqüenta e vinte;
calculou uns setecentos mil-réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a
dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de
fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus;
reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a
guardá-la.
Mas daí a pouco
tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para
quê? era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis.
Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da
fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos...
Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o
pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo.
Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal.
"Se houver um
nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro," pensou
ele.
Esquadrinhou os bolsos
da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e
por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a
carteira?... Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou
ao interior; achou mais dois cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar;
era dele.
A descoberta
entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e,
naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o
castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de
café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase
noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous
empurrões, mas ele resistiu.
"Paciência, disse
ele consigo; verei amanhã o que posso fazer."
Chegando a casa, já
ali achou o Gustavo, um pouco preocupado, e a própria D. Amélia o parecia
também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa.
- Nada.
- Nada?
- Por quê?
- Mete a mão no bolso;
não te falta nada?
- Falta-me a carteira,
disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou?
- Achei-a eu, disse
Honório entregando-lha.
Gustavo pegou dela
precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório
como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um
triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a
achara, deu-lhe as explicações precisas.
- Mas conheceste-a?
- Não; achei os teus
bilhetes de visita.
Honório deu duas
voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a
carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro
não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula,
rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor.
1. Ache no texto elementos que comprovem que o personagem Honório estava endividado.
2. Transcreva do texto o momento que Honório abre a carteira e o que ele viu lá.
3. Enumere conforme a ordem de acontecimentos do texto.
( ) Achou cartas que não abriu...
( ) ...era um bilhetinho de amor.
( ) A verdade é que ia mal.
( ) Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria.
( ) Achei-a eu, disse Honório entregando-lha.
( )A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório.
4. No trecho do texto abaixo, substitua as palavras em negrito por sinônimos.
“Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal“.
Crer______________ Achado:_______________ Restituí-lo:__________________
5. Explique as atitudes de Gustavo, D. Amélia e Honório no último parágrafo do texto.
6. Qual foi a dúvida que atormentou
Honório após a carteira?
7. Se no lugar de Honório fosse você
que achasse a carteira, você teria feito diferente dele?
O que faria? 8. Explique com suas palavras porque ao descobrir quem era o dono da carteira, Honório entristeceu.
9. Enumere conforme o conto:
( ) Não; achei os teus bilhetes de visita.
( ) Falta-me a carteira...
( )Tu agora vais bem, não?
( )”Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer.”
( )”Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro,”
(a) Gustavo
(b) Honório
(c) Pensamentos de Honório
(d) D. Amélia
10. Reescreva o final deste conto a partir do momento que Honório acha a carteira com dinheiro. Não esqueça de colocar o título e um final diferente. No mínimo 15 linhas.
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