Leituras literárias: escritas e diálogos intermidiáticos

sexta-feira, 18 de novembro de 2016


Acadêmicos Bolsistas Denise Hack, Gilmar Matias, Vanderlei Linden - Plano de aula 16 - 1°ano Ensino Médio Noturno Colégio Theóphilo Sauer
Data: 16/11/2016 e 23/11/2016
Carga horária: dois períodos, das 19h00m às 20h38min.
Assunto: Conto “Rua do Arvoredo, 27”
 Objetivos:
·         Elaborar um conto de terror.
·         Conduzir o aluno a descobrir o que teria na Rua do Arvoredo.
·         Interpretar questões referentes ao conto.
Metodologia: Será passada uma bandeja com pedaços de lingüiça, para degustação dos alunos, após os professores pediram aos alunos escreverem no quadro o que pensam encontrar nessa rua.  Dando sequencia na atividade, será passado um vídeo com um documentário sobre o conto e finalizando os alunos receberão o conto “Rua do Arvoredo, 27” e responderem as questões de interpretação.
Recursos: 
-Bandeja com pedaços de linguiça;
- Pendrive com o vídeo do conto (Documentário)
- Multimídia;
- Quadro e giz;
- Conto impresso com questões;
- Folha pautada para criação do conto.
Atividades propostas:
Atividade 01: Como motivação será passada uma bandeja com pedaços de linguiça para degustação.
Atividade 02: Serão questionados: O que teria na Rua do Arvoredo? Cada aluno se dirige ao quadro para escrever o que pensa.
Atividade 03: Será passado um vídeo com um documentário sobre o conto.
Atividade 04: Será entregue o conto com questões de interpretação.
Atividade 05: Os alunos em duplas deverão criar um conto de terror, com todas as características que deve conter no gênero textual conto de terror.


Rua do arvoredo, 27                                                                                                                    Celso Sisto


A casa estava sendo fechada. Dia e noite. Se algum som vinha de lá era logo sufocado pela música. Na companhia de Beethoven, Mozart, Händel os vultos desenhavam, na janela, um vai e vem que mais parecia uma dança. E, seus instrumentos da orquestra atacassem todos de uma vez, ninguém ouviria grito algum. Talvez uma marcha! Fúnebre! Para completar, havia a luz dos lampiões. Fraca, pálida. Fazendo mais penumbra do que iluminando.Os lampiões, distante uns dos outros, fabricavam sombras largas, suficientes apenas para desafiarem o escuro total. Mas também espalhavam fuligem que, em pedacinhos, grudava na roupa dos passantes, denunciando quem tivesse atravessado a rua do arvoredo no meio da noite.Não sei se por causa dos lampiões ou por causa das pessoas, o fato é que havia no ar um cheiro forte. Cheiro de peixe, cheiro de óleo de baleia. Os pavios fumarentos eram acesos ao cair da noite, mas também se apagavam cedo, e a noite alta era inteira dos seres noturnos. Bastavam os acendedores de lampiões virarem as costas com seus bastões pontudos! Quem poderia dizer que José Ramos não era um ser noturno? Sempre embrulhado em suas sobrecasacas e armado com suas bengalas. Era alto e movia-se no escuro com desenvoltura. Seus olhos miúdos se comprimiam e faziam-no respirar fundo e violentamente, procurando no ar cheiro de gente. Não cheiro de carne humana, mas o perfume que chegava primeiro, para anunciar a vida que corria nas veias, que bombeava os corações de quem trafegava pela rua de terra batida. José Ramos tinha orelhas grandes e pontudas. Ouvia tudo. Ouvia qualquer movimento. Via no escuro, com seu olhar de fogo. E seus passos largos, seus ombros ossudos, todo ele ficava em alerta. Os mais atentos poderiam ouvi-lo cantando baixinho. Cantando não, silvando, grunhindo entre as baforadas do charuto a caminho do Teatro São Pedro para mais uma ópera:

Piedade, repouso eterno, luz perpétua…
Diante de ti, toda carne comparecerá,
Repouso eterno dá-lhe…
E que a luz perpétua os ilumine.
Minha mãe me contou que era assim. Assim ela ouviu. Assim ela me contou. Assim José Ramos saudava suas vítimas. Mas não era ele que ia buscar suas presas, era Catarina.
A loura alemã, Catarina Palsen, fazia ecoar na rua o som do sapato com fivela. Depois vinha o agoniado miado de Coturno, o gato que sempre a acompanhava. O som fazia quem passava olhar para trás e dar de cara com ela. Caminhando. Linda. De olhos luminosos e derretidos. No escuro ninguém via que eram olhos azuis. Olhos de rio, misturados ao mar. Mas os cabelos ondulantes se o corpo branco que ela sabia usar para conquistar já eram suficientes. Movia a cabeça, chamava com os olhos, ria com o canto da boca e pronto! A pessoa era fisgada. Ela voltava, virava, via se a estavam seguindo, parava no portão da casa de número 27, dizia “vem” e entrava. Entravam atrás. Pronto! Ninguém via mais a pessoas sair. Ninguém!
Minha mãe me contava isso! E dizia que aquela era uma casa maldita! E não me dizia mais nada!
E de tanto ela me contar, eu resolvi comprovar! O sino da igreja matriz havia acabado de bater. Ainda estava claro. Eu havia me escondido atrás da janela da minha casa, que ficava ao lado da casa onde um dia moravam José Ramos e Catarina. Aquele era um dia especial, dia de Finados. O velho cemitério talvez ajudasse espalhar por Porto Alegre o cheiro das muitas flores delicadas nos túmulos. Mas havia também o cheiro de vela de sebo no ar. Maldito cheiro! Parecia que com ele o sangue corria mais rápido nas veias! E me empurrava! Aguçava minha curiosidade. Provocava minha coragem. E eu não era tão corajoso! Ou era?
Esperei escurecer um pouco mais e sai de casa. Precisei caminhar apenas uns poucos metros. Abri um portão de ferro e logo estava no jardim da casa vizinha. Sombrio, abandonado. Entrei rápido e me perdi no meio dos cinamomos. As manchas de sombras que se misturavam umas às outras impediam que me vissem da rua. Aproximei-me da janela de vidro leitoso. Impossível, não dava para ver nada! Forcei a porta de trás. O trinco de bronze, em forma de pata de leão, desencaixou e abriu. Fiquei arrepiado. Entrava?
Entrei. Tirei a lanterna do bolso. Quando a luz bateu na parede, vi os morcegos voarem. As teias balançarem. Tive vontade de correr. Não corri. Entrei mais ainda. A sala era grande. Havia um piano coberto, apodrecendo certamente. As tábuas de madeira estavam perfeitas no assoalho! Uma mesa, um canapé, uma travessa coberta por uma toalha branca esperava no centro da mesa. Cheguei perto e senti… hummmmmmmmm…Cheiro de comida. Comida fresca. Quente ainda. Nova. Mas havia moscas. Tinha alguém ali?
Tarde demais! O homem entrou e me viu! Não corri. Não gritei. Deixei a lanterna cair. Ele disse: Calma.
 Eu estava esperando por você… Tremi. Sorri amarelo. Ele abaixou o lampião que carregava e se aproximou da mesa. Não conseguia ver o seu rosto. Ele continuou:
A curiosidade traz muita gente aqui. Mas ninguém foi tão ousado quanto você. Ninguém entra. Ficam no portão, olhando, olhando, pensando e acabam indo embora.
Fiz menção de sair. Ele tocou em mim no braço, meu casaco não deixou ver se a mão era quente ou fria. Parecia fria.
- Não se assuste! – E deu uma risadinha – eu apenas cuido da casa.
Ele se sentou à mesa e me apontou a outra cadeira.
Pode sentar! Eu vou lhe contar tudo…
-José Ramos matou o pai e veio viver aqui, nesta casa, com Catarina. Ela atraía as vítimas, quase sempre homens. Seduzia-os, oferecia seus carinhos, oferecia comida: vinho, pão de meio quilo, queijo colonial, bolo, cuca e a travessa da linguiça especial, que era vendida aqui mesmo, no açougue que ficava no terreno da casa. E quando terminavam a refeição, ela batia com o garfo no vidro do copo e o alçapão de repente se abria… E, dizendo isso, o homem puxou uma corda, e o alçapão se abriu. Minha lanterna que tinha ficado pousado no chão caiu no buraco aberto na escuridão e se espatifou no fundo do porão. Quando ela bateu no chão, eu pude calcular a distância. Uns cinco metros de profundidade. Agora, certamente a lanterna estava quebrada.
O homem riu, eu arrastei rápido a cadeira para me levantar. Ele tocou na minha mão.
Calma! Eu vou buscar sua lanterna…
Ele se levantou, deu uns passos, empurrou uma porta falsa, disfarçada de parede, com um quadro dos anjos de, com um quadro dos anjos de Raffaello, pendurado, e começou a descer as escadas. Quando eu tive certeza de que ele já estava lá em baixo, eu me aproximei daquela passagem secreta. Comecei a descer, mas, não sei explicar como, um foco de luz, vindo de cima, iluminou os degraus. O homem estava de volta lá em cima, no topo. Nas minhas costas. Por onde ele tinha subido? Como?
Virei-me, quando ele disse:
Pronto! Aqui está a sua lanterna!
Voltei correndo, é verdade! Peguei a lanterna. Havia uma mancha. Parecia sangue. Limpei. A mancha apareceu de novo. Eu já ia sair da sala, quando ele novamente me tocou o braço:
Calma, vou-lhe contar tudo…
E voltou a senta-se à mesa. Ficou esperando. Eu sentei novamente. Se eu tinha chegado até ali, ia mesmo querer ouvir tudo! Então… Continuando… - disse ele -, o alçapão se abria, o sujeito despenava e, meio aturdido, descobria… José Ramos lá embaixo, saindo gigantesco das sombras, com um enorme machado afiado entre as mãos. Não dava tempo de gritar. O movimento era rápido, enérgico, feroz. E o sujeito era engolido pelo fio do aço, que riscava do alto da cabeça até o queixo. Aí vinha o silêncio, depois era hora de usar as facas, os facões, o cutelo; de separar, serrar, furar, picar, temperar a carne com sálvia e pimenta-do-reino encher os saquinhos feitos de tripa. Os ossos iam para o tonel de ácido fosfórico…Aí ele parou e olhou para mim. Puxou a toalha branca que cobria a vasilha no centro da mesa, apontou para a comida e disse:
Bom… Pausa para a janta! Está servido? – e arregalou os olhos, como se sorrisse com o olhar!
Quando vi que havia linguiça no meio daquilo que o homem ia comer, levantei depressa, peguei rápido a minha lanterna e caminhei em direção à porta, dizendo um “não, muito obrigado!” que mais parecia um “ai, que nojo!”. O homem esboçou um novo sorriso, mesmo de costas eu sabia e disse:
Não se preocupe. José Ramos foi condenado à forca. Há muito tempo: 1864!
Só aí me virei para olha-lo mais uma vez, antes de sair. Ele tinha acabado de desabotoar o último botão do casaco. Havia em seu pescoço esfolado, marca de corda.
Saí correndo. Entrei em casa sem fôlego. Minha mãe quis saber onde eu estava. Contei-lhe tudo, tintim por tintim... Ela, então, me disse:
Deixe de bobagem, menino. Essa casa está abandonada. Está fechada há séculos. Ninguém cuida dessa casa.Ela disse sem dar muita bola. Depois, foi em direção a cozinha. De repente lembou-se:
Vem jantaaaaaaaaar! Hoje tem linguiça!!!!!!
Mas eu já havia perdido a fome. 
 
1.  Marque V para verdadeiro e F para falso:
(    ) O texto afirma que José Ramos era baixo.
(   ) José Ramos tinha orelhas grandes e pontudas.
(    ) Quem buscava e seduzia as vítimas era José Ramos.
(    ) Catarina é italiana.
(    ) Os olhos de Catarina eram azuis.
(    ) No dia em que visita a casa é feriado de finados.
(   ) A sala da casa era pequena.
(   ) Para abrir o alçapão para as pessoas caírem, Catarina batia com um prato na mesa.
(   ) Na mesa de comidas da casa, tinha linguiça.
(   ) José Ramos foi condenado à força, há muito tempo: 1720.

2.  Numere as ações, com base no texto.

(   ) Não se preocupe. José Ramos foi condenado à forca. Há muito tempo: 1864!
(   ) E voltou a senta-se à mesa. Ficou esperando. Eu sentei novamente. Se eu tinha chegado até ali, ia mesmo querer ouvir tudo!
(   ) Quando vi que havia linguiça no meio daquilo que o homem ia comer, levantei depressa, peguei rápido a minha lanterna e caminhei em direção à porta, dizendo um “não, muito obrigado!”que mais parecia um “ai, que nojo!”. O homem esboçou um novo sorriso, mesmo de costas eu sabia.
(   ) A curiosidade trás muita gente aqui. Mas ninguém foi tão ousado quanto você. Ninguém entra. Ficam no portão, olhando, olhando, pensando e acabam indo embora.
(   ) Calma! Eu vou buscar sua lanterna…
(   ) Para completar, havia a luz dos lampiões. Fraca, pálida. Fazendo mais penumbra do que iluminando.
(   )  Não cheiro de carne humana, mas o perfume que chegava primeiro, para anunciar a vida que corria nas veias, que bombeava os corações de quem trafegava pela rua de terra batida.
(    ) Para completar, havia a luz dos lampiões. Fraca, pálida. Fazendo mais penumbra do que iluminando.
(    )  E, seus instrumentos da orquestra atacassem todos de uma vez, ninguém ouviria grito algum. Talvez uma marcha! Fúnebre!
(   ) Mas também espalhavam fuligem que, em pedacinhos, grudava na roupa dos passantes, denunciando quem tivesse atravessado a rua do arvoredo no meio da noite.

3.       O que acontece com as vítimas de José Ramos?

4.       Em que lugar se passa a história?

5.       O que o menino curioso constatou após a visita que fez a casa?

6.       Segundo o conto, o que atiçou ainda mais a curiosidade do menino?

7.       Marque no conto trechos que comprovem que o menino teve medo.

8.       Quem é o eu-lírico (quem está narrando à história) do conto?

9.       Imagine uma casa assombrada, como ela seria e o que ela teria que ter para deixar você assustado (a)?

10.   O conto “Venha ver o pôr do sol” e “A rua do arvoredo” possuem semelhanças e características comuns. Quais são elas?

11.   Qual tema é abordado nos dois contos estudados em sala de aula?

12.   Quais fatos, características ou adjetivos te fazem perceber que o conto é de terror?

13.   Através da leitura feita, descreva conforme o texto, como era a casa da rua do arvoredo?

Definição e características dos contos de terror:
                                                                          
Um conto é uma narração breve de eventos normalmente imaginários, que apresenta um grupo reduzido de personagens e que recorre a poucos recursos narrativos de modo a desenvolver um argumento não demasiado complexo.
O terror, por sua vez, é o sentimento mais intenso de medo, em que o indivíduo já não consegue pensar de forma racional. O terror pode criar calafrios, paralisia muscular e, inclusive, a morte por paragem cardíaca.
Um conto de terror, como tal, é um relato literário ficcional que visa provocar sentimentos de medo no leitor. Nesse sentido, apresenta histórias vinculadas às temáticas mais atemorizantes para os seres humanos, como a morte, as doenças, os crimes, as catástrofes naturais, os espíritos e as bestas sobrenaturais.
O conto de terror pode ter um fim moralizante, isto é, assustar o leitor para que este evite adotar certas condutas ou determinados atos. Noutros casos, o conto de terror não passa de um exercício estético que procura, como qualquer obra literária, provocar um efeito em quem o lê.
Características:
·                    Grupo reduzido de personagens
·                    Pode ter fim moralizante ou não
·                    Tem um clímax
·                    Apresenta um desfecho e um final
·                    Passa medo ao leitor ao ler
·                    As histórias geralmente são fictícias
·                    Os personagens podem ser sobrenaturais, ser animais ou humanos peculiares
·                    É uma narração breve
·                    Apresenta tempo/espaço (onde acontece a história e quando)
·                    Descreve o ambiente que a história ocorre

Atividade: Agora é sua vez de escrever um conto de horror, fique atento para que apareça no conto todas as características citadas. Não esqueça o título, e o desfecho.
                                        

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