DATA: 22/08/2016
ASSUNTO: Conto de suspense, verbos e advérbios.
OBJETIVOS:
Exercitar a compreensão e interpretação por meio da
leitura de conto de suspense a fim de ampliar seu conhecimento literário.
Observar o uso de verbos e advérbios no texto por
meio de exercícios de interpretação e gramática para entender como os recursos
gramaticais são aplicados na construção do texto.
METODOLOGIA:
Motivação: será exibido aos alunos o episódio 12 da
primeira temporada da série Dexter.
Pré-leitura: após assistirem o vídeo, os alunos
serão questionados oralmente sobre o que assistiram, de forma a serem
conduzidos para a leitura do texto.
-Você acredita que as pessoas nascem com tendência
psicopata ou que isso é desencadeado por algum acontecimento?
-Como vimos no episódio, um psicopata tem grande
poder de manipular e iludir. Você conseguiria perceber que uma pessoa é
psicopata?
-Os laços entre irmãos adotivos e biológicos são
diferentes de alguma forma?
-Vocês têm irmãos? Como são as relações de vocês?
Leitura e descoberta: será lido o conto “As
gêmeas”. Em seguida, os alunos deverão responder questões de interpretação e
gramática a partir do texto.
AS GÊMEAS
Nelson Rodrigues
Estava tomando café em pé quando viu passando, na
calçada, a pequena que começara a namorar na véspera. Largou a xícara, largou
tudo e atirou-se no seu encalço, quase como um maluco. Tropeça num cavalheiro,
esbarra numa senhora, e vai alcançar a menina pouco adiante. Caminha lado a
lado e faz a alegre pergunta:
— Como vai essa figurinha?
A garota, que era realmente linda, estaca por um
segundo. Olha-o, de alto a baixo, com surpresa e susto. Em seguida, vira o
rosto e continua andando. Osmar, desconcertado, apressa o passo e a interroga:
“Mas que é isso? Não me reconheces mais?”. Nenhuma resposta. E ele, num espanto
misturado de irritação: “Que máscara é essa?”. Silêncio, ainda. Nessa altura
dos acontecimentos, a menina só falta correr.
Então, Osmar perde a paciência; segura o braço da
fulana: “Olha aqui, Marilena...”. Ao ouvir o nome, ela para: vira-se para ele,
mais cordial, quase alegre; encara-o confiante:
— Já vi tudo!
— Tudo como?
Ela parece aliviada:
— Eu não sou Marilena, Marilena é minha irmã.
Pasmo, exclama: “Meu Deus do céu! Que coisa!”. A
garota sorri, divertida com a confusão:
— Eu sou Iara.
Osmar faz a pergunta desnecessária:
— E são gêmeas?
Na véspera, conhecera Marilena. Fora um desses
flertes deliciosíssimos de ônibus.
Viajaram em pé, lado a lado, cada qual pendurado na
sua argola. Quando saltaram, no mesmo poste, era evidente que a simpatia era
recíproca e irresistível. Marilena deu-lhe telefone, endereço, tudo. Só não lhe
dissera por falta de oportunidade que tinha uma irmã gêmea, Iara. Quando se
encontraram mais tarde,
Osmar contou o episódio e dramatizou:
— Sabe que eu estou com a minha cara no chão?
Besta! Semelhança espantosa!
Assim nunca vi, puxa! Como é que pode, hein?
Sentaram-se num banco de jardim. E, então, Marilena
contou que o equívoco de
Osmar não seria o primeiro, nem o último. Mesmo
amigo e até parentes incidiam por vezes na mesma confusão. A única coisa que
diferia entre as duas era um bracelete que
Iara usava e a outra não. Ainda na sua impressão
profunda, ele observa:
— Irmãs assim, gêmeas, são muito amigas, não são?
Marilena parece vacilar:
— Depende.
Ele insiste: “E vocês?”. Marilena resiste:
— Você está querendo saber muito. Vamos mudar de
assunto que é melhor.
O DRAMA
Desde o primeiro momento, Osmar julgou descobrir em
Marilena a índole, a vocação, o destino da esposa.
Uma semana depois, avisava em casa e no emprego, em toda parte: “Vou ficar
noivo! Vou me casar!”. No fim de quinze dias começa a frequentar a casa de
Marilena. Mais tarde, ou seja, dois meses, e fica noivo. Os amigos batiam-lhe
nas costas:
— Que rapidez, que pressa! Bateste todos os
recordes mundiais de velocidade!
Pilheriava:
— O negócio, aqui, é a jato!
Passava todos os seus momentos de folga na casa da
noiva. E, apesar de ver as duas irmãs diariamente, continuava fazendo o mesmo
espanto: “Como é possível, meu
Deus, duas criaturas tão parecidas!”. E quando saía
com Marilena e Iara, fazia ele próprio o comentário jocoso: “Eu me sinto uma
espécie de noivo de duas!”. Um dia, porém, Marilena pôs-lhe a mão no braço:
— Vou te pedir um favor. Não brinca mais assim. É
um favor. Não brinca mais assim. É um favor que te peço.
— Por quê?
E ela:
— Se tu soubesses como me irrita essa semelhança!
Estou cansada, farta, de ser tão parecida com Iara! — Pausa e acrescenta, com
surdo sofrimento: — Eu não queria me parecer com ninguém! Com mulher nenhuma!
NOVO PEDIDO
Daí a dias, Marilena faz novo pedido: “Não quero
que você tenha muita intimidade com Iara, sim?”. Osmar, que achava abominável
qualquer briga entre parentes, sobretudo entre irmãos, tomou um choque.
Pigarreia e indaga: “Mas vocês não são tão
amigas?”. Marilena crispa-se diante dele: “Amigas, nós? Nunca!”. Pela primeira
vez, admite:
— Nunca brigamos, nunca discutimos e ela me trata
até muito bem. Mas me odeia, ouviu? Eu sei que ela me odeia!
Agarrada ao noivo, Marilena fala do sentimento
turvo e constante que não se traduz em atos, em palavras. Explica: “Iara nunca
me disse nada, nada, mas...”. Osmar pigarreia, assombrado: “Acho que você está
exagerando!”. Fosse como fosse, ele procurou, com o máximo de tato, discrição,
afastar-se da cunhada. Mas não conseguia acreditar que Iara, tão cordial com
todos e amorosíssima com Marilena, pudesse odiar alguém e muito menos a irmã.
Por essa época, Iara apanhou uma gripe muito forte, quase uma pneumonia. Venceu
a crise, é certo; mas sua convalescença constituiu um novo problema.
Depauperada, numa tristeza contínua que a calava, só falava em morrer. O médico
da família coça a cabeça: “Esgotamento. O golpe é ir para fora”. O casamento de
Marilena estava marcado para próximo.
A mãe pergunta: “Não assiste ao casamento?”. Iara
responde:
— Não se incomode, mamãe, que eu não vou fazer
falta. E se eu ficar aqui não sei, não; acho que vou acabar fazendo uma
bobagem!
A família não teve outro remédio senão mandá-la
para a fazenda de um tio em
Mato Grosso. Muito enfraquecida, Iara suspirou:
— Ótimo que seja em Mato Grosso. Quanto mais longe
melhor.
BODAS
Quando o avião que a levava partiu, Marilena
vira-se para o noivo: “Graças, meu
Deus, graças!”. Essa alegria pareceu a Osmar cruel,
quase cínica. Era, porém, evidente que a ausência da outra a fazia felicíssima:
“Agora, sim”, dizia, “agora eu sei que não me acontecerá nada!”. E, de fato, um
mês depois casavam-se no civil e no religioso. Como presente de casamento,
haviam ganho uma pequena casa, lírica e nupcial, em Lins de
Vasconcelos. Às dez horas da noite, deixam a casa
dos pais da noiva e vão para a nova residência. Estão solitários como Adão e Eva. Ela,
transfigurada, avisa: “Depois te chamo!”. Entra no quarto e, ainda de
noiva, fecha a porta atrás de si. Do lado de fora, ele espera, fumando,
impaciente. Quinze minutos depois, bate. De dentro, vem a resposta: “Já vai”.
Mais quinze minutos e Marilena entreabre: “Pode vir, meu bem”.
Horas depois, quando já amanhecia, ele, no seu
deslumbramento, passa a mão no braço
da pequena. Súbito, senta-se na cama. Balbucia,
apavorado: “O bracelete!”. Ela responde, muito doce:
— Eu não sou Marilena, eu sou Iara.
Fora de si, ele se levanta, procura debaixo da
cama, dos móveis; derruba uma cadeira; e, no meio do quarto, olha em torno, sem
compreender. Então, Iara aponta:
“Ali!”. Como um louco, ele corre ao
guarda-vestidos; num uivo abre as duas portas.
Mas recua, numa histeria pavorosa. Lá de dentro,
vem sobre ele o cadáver de Marilena, vestido de noiva. Na cama, Iara está
acendendo um cigarro americano.
QUESTÕES:
1- Crie uma descrição para cada uma das
personagens, com base no texto e naquilo que você imaginou.
2- Que tipo de narrador o texto apresenta? Comprove
com elementos do texto.
3- Releia: “Estão solitários como Adão e Eva. Ela,
transfigurada, avisa: “Depois te chamo!””.
a. Com a expressão “Adão e Eva” é feita uma
intertextualidade com a Bíblia. Qual o significado dessa expressão no texto?
b. O que representa a característica
“transfigurada”, que a personagem demonstra?
4- No trecho “Estava tomando café em pé quando viu
passando, na calçada, a pequena que começara a namorar na véspera” são usados verbos
no modo nominal do gerúndio. O uso excessivo do gerúndio constitui um vício de
linguagem chamado gerundismo. Isso ocorre no trecho? Por quê?
5- Em “A garota, que era realmente linda, estaca
por um segundo” é utilizado o advérbio “realmente”. Os advérbios são termos
acessórios, então podem, do ponto de vista gramatical, ser removidos da frase.
Considerando o sentido, o que mudaria na frase caso ele fosse retirado?
Explique.
6- Na passagem “A mãe pergunta: “Não assiste ao
casamento?””, o verbo assistir está empregado no tempo mais adequado?
Justifique.
-Após a realização das questões, elas serão
corrigidas oralmente.
AVALIAÇÃO:
Será avaliada a participação dos alunos na
realização das atividades propostas.